O surto de doenças relativas ao mosquito Aedes aegypti – dengue, chicungunha e zika – tem provocado superlotação nas emergências do Recife. Relatos de pacientes ouvidos pela reportagem dão conta de que o tempo médio de espera em algumas Unidades de Prontoatendimento (UPA) é de quatro horas, cenário que não é muito diferente na rede privada. O excesso de pacientes está provocando um fenômeno perigoso: para não penar por horas na sala de espera, muitas pessoas estão se medicando em casa.
O zelador João José do Nascimento mora na Rua Vereador Canuto Vítor de Carvalho, em Caxangá, a apenas 600 metros da UPA do bairro. Há quase dois meses com febre e dores no corpo, desistiu de buscar atendimento na unidade e passou a se medicar. “Da primeira vez, levei quase meia hora para ir andando, de tão mal que estava. E não consegui atendimento. Tentei outras vezes e passei a tomar analgésico em casa mesmo”, diz.
Com sintomas de chicungunha, a auxiliar de serviços gerais Thayná de Castro foi à UPA da Caxangá na manhã de ontem para pegar um atestado depois de uma semana tomando remédios em casa. “A gente vem, fica um tempão e a única coisa que dizem é para beber líquido e ficar em repouso. Então o jeito é se medicar”.
Para o médico infectologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e presidente da Sociedade Pernamucana de Infectologia, Paulo Sérgio Barros, mesmo com todos os percalços, o doente deve se dirigir à unidade de saúde mais próxima. “Cada uma das doenças transmitidas pelo Aedes é tratada com medicações específicas. O uso aleatório pode causar complicações nos pacientes”, diz. Um exemplo: pacientes diagnosticados com dengue devem ficar longe de substâncias como ácido acetilsalicílico, corticóides e antiinflamatórios.
Outro problema é a subnotificação: se a pessoa doente não for à unidade de saúde, o poder público deixa de registrar o caso, perdendo informações que podem ser úteis nas políticas de combate às enfermidades.
Ao menos a subnotificação pode ser minimizada sem que o doente vá em busca de tratamento. Qualquer pessoa pode relatar o caso de doença à Ouvidoria de Saúde da prefeitura pelo número 0800-2811520. “Além disso, os agentes de vigilância ambiental, que fazem visitas em buscas de foco do mosquito, têm poder para notificar”, explica a gerente de Vigilância Epidemiológica da Secretaria municipal de Saúde, Nathália Barros.
Os especialistas fazem questão de reforçar o conselho para que as pessoas procurem as unidades de saúde. “É lá que terão a orientação necessária para seu caso”, avisa Nathália. Outra dica é duvidar de receitas caseiras. “Não há evidência científica de que alimentos os suplementos vitamínicos encurtem o período das doença”, esclarece Paulo Sérgio.