Epidemia

Zika: cientistas investigam possibilidade de muriçoca transmitir vírus

Pesquisa já identificou presença do vírus em glândula salivar de exemplares Culex quinquefasciatus

Cinthya Leite
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Cinthya Leite
Publicado em 02/03/2016 às 20:35
Bobby Fabisak/JC Imagem
Pesquisa já identificou presença do vírus em glândula salivar de exemplares Culex quinquefasciatus - FOTO: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Está mais forte a hipótese de que o mosquito Aedes aegypti não seria o único vetor do zika vírus, que já consegue se propagar em cerca de 40 países. Resultados preliminares de um estudo desenvolvido pela Fiocruz Pernambuco sugerem que o Culex quinquefasciatus (conhecido popularmente como muriçoca), que coloca seus ovos em criadouros poluídos, é provavelmente um potencial vetor de zika. O estudo, liderado pela bióloga Constância Ayres Lopes, conseguiu detectar a presença do zika em alta carga viral na glândula salivar do Culex após realização de três infecções, em laboratório, em cerca de 200 mosquitos. 

“Se o vírus alcança a glândula salivar, significa que o Culex pode disseminá-lo. Para comprovar isso, são necessários outros experimentos, com amostras de mosquito de campo”, explicou Constância, durante workshop sobre zika que terminou ontem na Fiocruz Pernambuco. Por enquanto, ela reforça que ainda é cedo para assegurar que o Culex transmite o vírus. 

Para garantir isso, é preciso encontrar essa espécie de mosquito infectado com o zika na natureza. A próxima etapa do estudo, segundo Constância, é analisar esse material de campo que está sendo coletado nas casas onde estão sendo registrados casos de zika. A equipe técnica da Secretaria Estadual de Saúde tem feito essa coleta e acompanhado o estudo. “Vamos trazer o material para o laboratório e fazer o teste molecular na tentativa de detectar o vírus nessas espécies. Com esse resultado a partir da análise de uma grande quantidade de amostras, poderemos idealizar se o Aedes é vetor exclusivo, se existem outros vetores e qual importância de cada um no papel de transmissão.” 

Nessa fase da pesquisa, a bióloga tem como meta analisar cerca de 10 mil pools de mosquitos. “Assim, pode-se ter ideia da dispersão, compará-la com diferentes bairros e municípios para ver se há coincidência com os casos de zika e microcefalia. Vai levar um tempo para se ter resultado”, diz Constância, que detectou uma facilidade da infecção e da disseminação do vírus para a glândula salivar do Culex. “Isso mostra que o zika conseguiu escapar de algumas barreiras do mosquito e também vai dar uma resposta sobre o período de incubação do vírus no mosquito.” O zika parece ter uma tendência de tempo de replicação menor no Culex, o que poderia mostrar a eficiência de transmissão e explicar a rapidez de dispersão da doença no Brasil. 

O interesse da pesquisadora em investigar o Culex apareceu a partir do fato de que a primeira epidemia de zika fora de ambiente silvestre aconteceu na Micronésia (Oceania). “Lá o Aedes é raro, e os pesquisadores não analisaram o Culex, que é abundante em toda região tropical. Aqui no Recife, por exemplo, para cada Aedes capturado em campo, coletamos 20 mosquitos Culex”, diz Constância.

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