É bebedor de uísque e frequenta bares e boates da Zona Sul da cidade? Você pode estar sendo enganado quando pede uma dose. A Polícia Civil apresentou, na manhã de ontem, o resultado de uma investigação que levou à prisão de duas pessoas suspeitas de integrarem um esquema de falsificação da bebida. O grupo seria responsável por vender o uísque, a preços bem abaixo do mercado, para estabelecimentos comerciais da região. Uma garrafa que custa R$ 100 chegava a ser vendida por R$ 55.
O esquema consistia em colocar dentro da garrafa de uma marca renomada – Johnny Walker e Old Parr eram os preferidos da quadrilha – uma bebida de qualidade inferior. “Depois eles reconstituíam o lacre com uma espécie de cola, quando o original é formado por micropontos”, explica o titular da Delegacia de Boa Viagem, Carlos Couto, que comandou a investigação. O produto era repassado a intermediários, que os vendiam aos estabelecimentos e também a pessoas físicas.
A quadrilha foi descoberta na última sexta-feira em uma casa no bairro de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife. Era lá que as garrafas eram adulteradas, segundo os agentes. Foram presos Williams Barbosa da Silva, 21 anos, e Rafael Duarte Costa Cavalcanti Souza, 20. Os dois trabalhavam no local onde os produtos eram falsificados. O proprietário da casa, César Augusto Duarte Costa, 55 anos, está sendo esperado para prestar depoimento à polícia.
A Polícia Científica vai fazer exames para verificar se, além das garrafas e lacres, o próprio uísque era adulterado. Segundo Couto, existe a possibilidade de haver outros produtos misturados à bebida, para aumentar a margem de lucro do grupo.
Dentro da casa, os agentes também encontraram 11 quilos de maconha, o que reforça a tese de que se trata de uma quadrilha com outras ramificações. Foram encontradas cerca de 3 mil garrafas vazias de uísque, metade das quais foi destruída pelos policiais no mesmo dia da prisão dos suspeitos.
Além do tráfico de drogas, o grupo pode responder por crime contra a ordem econômica (vender mercadoria que cuja embalagem, tipo ou composição estejam em desacordo com a descrição original) e crime contra a saúde pública (adulterar ou falsificar substância alimentíca, tornando-a nociva à saúde).
A Polícia Civil preferiu não divulgar os nomes dos estabelecimentos para os quais a bebida era vendida. Seriam quatro na Zona Sul e um na Zona Norte do Recife. “A investigação ainda está em andamento. Além do mais, existe a possibilidade de muitas pessoas terem adquirido o produto de boa fé, sem intenção de obter vantagem”, explica o delegado seccional do Recife, Joel Venâncio.
O presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Pernambuco (Abrasel), André Araújo, explica que todos os 350 estabelecimentos associados à entidade – 70% dos quais ficam no Recife – são orientados a observar itens como notas fiscais e características originais dos produtos. “É em momentos de crise, como o que vivemos, que aparecem pessoas querendo se aproveitar da boa fé dos comerciantes”, afirma.