A greve dos funcionários do metrô do Recife é apenas mais um capítulo de uma triste história: a degradação permanente de um sistema que, por sua natureza, custa caro e há anos ameaça morrer de inanição. Essa é a situação do metrô pernambucano, que tem 31 anos de criação e sobrevive sem conseguir pagar suas contas. O sistema vai de mal a pior. Tem um futuro incerto e sinistro. E o que está ruim deverá piorar porque terá que reduzir, a partir deste mês, em 38% o seu orçamento anual, que já não cobria o que deveria. Há, inclusive, ameaças reais de a operação do sistema ser reduzida em horários e dias específicos para diminuir as despesas. Ou seja, além da queda, o coice.
Estamos muito preocupados. Temos que operar um sistema que precisava de R$ 104 milhões e que agora terá apenas R$ 51 milhões", diz Clélio Correia, superintendente do metrô
O corte de 38% no orçamento foi comunicado oficialmente pela CBTU, via ofício (veja trechos na arte abaixo). No documento, a instituição explica apenas que está repassando aos Estados a redução de dinheiro que foi determinada pelo Ministério das Cidades. Nada mais. No caso do metrô do Recife, não considerou o fato de que o sistema sobrevive, atualmente com uma taxa de cobertura de apenas 17%. Taxa de cobertura é quanto a receita consegue cobrir da despesa.
Na prática, significa que o metrô do Recife, que já sofre sem recursos para manutenção e sequer sonha, desde os preparativos para a Copa do Mundo, com recursos para investimentos, terá que sobreviver em 2016 com R$ 51 milhões. Quantia que representa metade do que tinha pleiteado para cobrir as despesas no ano: R$ 104 milhões.
O superintendente do Metrorec, Clélio Correia, há apenas oito meses no cargo, está desesperado e fala sério sobre a possibilidade de reduzir a operação. Diz que o corpo técnico já está debruçado sobre uma nova grade de horário, caso o orçamento não seja revisto. “Estamos muito preocupados. Temos que operar um sistema que precisava de R$ 104 milhões e que agora terá apenas R$ 51 milhões. Como fazer isso?”, indaga. A expectativa é de que o corte seja feito, principalmente, na manutenção. E como a segurança é fundamental para a operação do sistema, a única saída seria reduzir o funcionamento. Estão sendo estudadas opções como suspender o metrô nos domingos, talvez também no sábado e até nos horários de vale – as horas fora do pico (9h às 16h).
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Para se ter ideia da situação do sistema, basta analisar os números: o metrô tem, há pelo menos dois anos, renda de R$ 70 milhões e custo operacional de R$ 270 milhões. Mas, e o que o cidadão tem a ver com isso? Quem explica as consequências na prática é o professor da UFPE, Fernando Jordão, especialista em transporte ferroviário. “Vai sobrar para a população porque, na hora do corte, o metrô não poderá abrir mão da energia, nem do pessoal de operação. Restará reduzir o custo com a manutenção, o que significa quebras e atrasos”, diz.
Por isso o professor defende a necessidade de rever o modelo de remuneração do metrô. “É um sistema que cobre toda a operação. Diferente do ônibus, o metrô custeia tudo: veículo, infraestrutura, energia e gerência do sistema. Não pode receber apenas pelo passageiro. Clélio Correia vai mais além e diz que é preciso reajustar a tarifa, que desde 2012 não tem aumento, permanecendo no valor de R$ 1,60. “O certo seria ela custar, pelo menos, o mesmo valor da cobrada nos ônibus, hoje de R$ 2,80. Temos expectativa de que o novo governo reveja essa situação”, diz. Se o aumento for dado, representaria um reajuste de 70% e, apenas reduziria o déficit operacional do metrô.