A novela do ordenamento do comércio informal da cidade do Recife ganha mais um capítulo. Desta vez, ambulantes do bairro do Vasco da Gama, Zona Norte da cidade, cobram da Prefeitura do Recife a transferência para um mercado público, prometida no início do ano passado após a Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano (Semoc) ter retirado as bancas fixas instaladas no Córrego do Botijão. Sem mercado até hoje, alguns ambulantes se arriscam ocupando as calçadas da Rua Vasco da Gama, uma das vias mais movimentadas da região, sob a ameaça de retirada pelos agentes de fiscalização. Para esta quinta-feira (19), está programado um ato para colher assinaturas e pressionar o poder público pela instalação de um mercado público no bairro.
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“Eles disseram pessoalmente para não nos preocuparmos, pois só seriamos retirados para ir para um mercado. Acabaram nos tirando com a justificativa de melhorar a mobilidade para os pedestres na área e até hoje está por isso mesmo. A prefeitura nos colocou em outras ruas, mas o movimento é muito fraco. Onde estávamos era melhor. A gente só quer um espaço para vender, regularizado e que não atrapalhe ninguém”, conta o ambulante Luís Modesto da Silva, 54 anos, que há dez anos vende frutas e verduras pelas ruas do Vasco da Gama.
Sem clientela, resta aos ambulantes se arriscarem em pontos mais movimentados, como a Rua Vasco da Gama, uma das principais do comércio do bairro. A via já passou por ordenamento e é constantemente fiscalizada por agentes do poder municipal, que, segundo os ambulantes, agem com truculência. Espremidos em algumas calçadas transversais, resta aos comerciantes informais torcer para não terem o material apreendido. “Outro dia jogaram a carroça de um ambulante para cima do caminhão, derrubaram todo o material dele. Isso é um descaso com a pessoa humilde. O que a gente pode fazer? Dependemos disso para viver”, salienta Maria Betania Bezerra, 48, vendedora da área há 18 anos.
A estudante de direito e presidente da Associação Pernambucana de Mães Solteiras, Marli Silva, 54, mora no Vasco da Gama e se sensibilzou com a causa dos ambulantes. Às 8h desta quinta-feira, Marli e os comerciantes informais do bairro fazem ato na entrada da Rua Frederico Ozanan em busca de apoio da população para construção de um mercado público no bairro, capaz de alocar os ambulantes da área.
“Os ambulantes não aguentam mais essa situação de não ter um local fixo para trabalhar, além de viverem escondidos e amedrontados. O objetivo do ato é reunir a comunidade e colher 5 mil assinaturas em um abaixo assinado que será levado diretamente às mãos do prefeito”, explica Marli, que também denuncia o esgotamento do diálogo entre os comerciantes e o secretário de Mobilidade e Controle Urbano João Braga. Com as assinaturas, o grupo pretende apresentar ao prefeito Geraldo Júlio a proposta de dois locais do bairro para a instalação do mercado público.
Em nota, a Semoc informa que, em 2015, realizou uma ação de ordenamento no trecho conhecido como Córrego do Botijão. Na ocasião, foram retirados excesso de materiais de lojistas que ocupavam as calçadas. Dos 14 comerciantes que atuavam na área, três não comercializam mais na via, os demais foram realocados para as ruas Frederico Ozanan e Santa Clara. Para uma parte dos ambulantes, foram oferecidos espaços no Mercado da Cobal, localizado em Casa Amarela, proposta não aceita por eles.