HABITAÇÃO

Moradores da comunidade Construindo Sonhos refazem casas após incêndio

Casas que antes eram de tábua agora estão sendo reconstruídas com tijolos

Margarida Azevedo
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Margarida Azevedo
Publicado em 22/07/2016 às 7:00
Foto: Guga Matos /  JC Imagem
Casas que antes eram de tábua agora estão sendo reconstruídas com tijolos - FOTO: Foto: Guga Matos / JC Imagem
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De tijolo em tijolo, famílias que perderam tudo em um incêndio dois meses atrás, na Ilha de Joaneiro, em Campo Grande, Zona Norte do Recife, vão reconstruindo a vida. Sem esperar o poder público, mas com a ajuda de parentes e amigos, moradores da comunidade Construindo Sonhos – instalada num terreno particular invadido nove anos atrás – aos poucos voltam a viver no local. Agora em casas de alvenaria, em vez dos barracos de tábua que pegaram fogo na noite da sexta-feira 13 de maio.

Carmem Maria Nascimento, 25 anos, lembra bem daquele dia, mas prefere esquecê-lo. Sua casa, uma das primeiras do terreno voltado para a Avenida Agamenon Magalhães, ficou totalmente queimada. Hoje, o recomeço é percebido nas sacolas de roupas e utensílios espalhados no chão da sala do imóvel recém-construído.

“Voltamos para cá há apenas 11 dias. Foram quase dois meses morando na casa da minha mãe. No dia do incêndio estava com meu filho caçula com apenas um mês e meio de nascido. Foi desesperador, o fogo se alastrou muito rápido”, conta Carmem, também mãe de uma menina de 4 anos. “Meu marido é pedreiro. Ele e alguns colegas reconstruíram nossa casa. Nossas famílias ajudaram comprando tijolos e cimento”, diz Carmem.

A dona de casa Alexânia Cristina de Moura, 36, mãe de dois filhos e separada do marido, não vê a hora de ter seu lar de volta. Enquanto esse dia não chega, vive de favor na casa de vizinhos. Uma amiga da Assembleia de Deus, que mora em Condado, na Zona da Mata, sensibilizou-se com a situação dela e comprou o material de construção. A igreja está bancando o pedreiro.

Sem auxiliar para ajudar o rapaz, é Alexânia que enche o carrinho de mão com os tijolos guardados na entrada da comunidade. Depois leva até o local onde aos poucos sua casa ganha forma. “Tenho uma hérnia nem poderia pegar peso. Mas se não for assim vai demorar ainda mais. Jesus está no comando de tudo, logo voltarei para minha casa”, comemora Alexânia, ainda sem saber como vai mobiliar o espaço. “Há males que vêm para o bem. É um sofrimento o que estamos passando, mas terei agora uma casa de verdade”, ressalta a doméstica.

A mesma sorte não teve a irmã de Alexânia, Maria Keila Diniz, 26. Não tem previsão de quando sairá da casa da mãe, onde mora com o filho de 6 anos desde o incêndio. “Não trabalho. Ganho R$ 147 do Bolsa Família. Só uma parte do meu barraco pegou fogo. Roubaram meu fogão, aparelho de DVD, cama, bujão de gás, liquidificador, sapatos e até torneira levaram”, lamenta Keila. Ela diz que construiu o barraco nove anos atrás, quando a comunidade estava se formando. Pagou R$ 40 pelo pedaço do terreno.

Para Rivânia Silva, 34, a situação é mais crítica. Ela e cinco filhos (17, 12, 10, 8 e 3 anos de idade) dividem um apertado barraco. Não há perspectiva de mudança, a não ser que o poder público a ajude. “Vivo nesse barraco miúdo com cinco crianças, arriscando a acontecer uma tragédia. O auxílio-moradia que a prefeitura quer dar, R$ 200, não serve. Quem vai alugar uma casa por esse valor para uma mulher com cinco filhos?”, questiona.

Paulo André de Araújo, do Movimento Nacional de Luta pela Moradia, entregou uma lista segunda-feira passada para a secretária de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Recife, Ana Rita Suassuna, com os nomes de 133 famílias que deverão receber a pecúnia, uma indenização de R$ 1.500 por causa do incêndio. No dia seguinte ao incêndio foi feito um protesto na Agamenon Magalhães cobrando moradia.

A prefeitura informa que a relação foi repassada para a Defesa Civil cruzar os dados e confirmar a real situação das famílias. Se estiver tudo certo, o prazo é que o decreto liberando o dinheiro saia até 15 de agosto. A dúvida é se o pagamento ocorrerá em três parcelas iguais, como é de praxe, ou de uma só vez, como querem os moradores.

A Secretaria de Habitação de Pernambuco comunica que foram cadastradas 126 famílias para serem transferidas para um conjunto habitacional a ser construído no bairro de Nova Descoberta, Zona Norte do Recife. A empresa que vai construir o residencial já foi definida. Falta a licitação para contratar firma que fará a terraplenagem do local. A previsão é de que esse processo comece na próxima semana e dure 90 dias. O habitacional terá recursos do programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal.

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