A inauguração, um mês atrás, de um galpão de triagem de resíduos recicláveis no bairro do Arruda, Zona Norte do Recife, ainda não mudou o degradante cenário da via onde está instalada a cooperativa. A Avenida Professor José dos Anjos vive repleta de lixo, sobretudo nas proximidades do estádio do Santa Cruz. Sacos, restos de metralha, garrafas pet, carcaças de eletrodomésticos e toda sorte de entulhos são descartados sem o menor constrangimento. E para frustração dos moradores, um projeto de requalificação do canal Arruda-Vasco da Gama e de suas margens, anunciado pela atual gestão em fevereiro de 2013, até hoje não saiu do papel.
“Tudo que não presta o povo joga no canal. Sempre tem lixo, não adianta a prefeitura limpar”, afirma o servente de pedreiro Everaldo Xavier de Oliveira, 49 anos, morador do Arruda há três décadas. “Ficamos tão animados quando disseram que iriam ajeitar o canal, limpá-lo, construir uma praça. Infelizmente nada foi feito até agora”, complementa Everaldo. Ele mostra uma árvore que caiu cerca de quatro meses atrás e ainda não foi retirada. Pertinho dali, três cavalos comem grama tranquilamente alheios ao movimento de carros na rua. Em alguns pontos, carros estacionados nas margens do canal reforçam a ideia que não há qualquer controle urbano.
Gilvan Alves, 54, sobrevive da venda de reciclável. Compra o que cinco catadores recolhem do canal e revende. “Se fizessem mesmo essa obra no canal a gente respeitaria e não colocaria mais o material na beira do canal. O que a prefeitura fez até agora foi muito mal feito. Mexeram na pista. Deixaram as tampas de esgoto mais altas que a rua, provocando vários acidentes”, comenta Gilvan. “É muita sujeira dentro do canal. Recolho muitas latas e garrafas pet”, diz Júnior Ferreira, 26, um dos que vende o lixo que cata para Gilvan. Por cada carroça cheia de material reciclável ele ganha entre R$ 30 e R$ 40.
A Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb) informa que removeu, entre abril e junho, 260 toneladas de resíduos do Canal do Arruda, ao custo de R$ 190 mil. Sobre a requalificação do canal, a Empresa de Urbanização do Recife (URB) diz que efetuou a reposição e instalação de placas de revestimento e dragagem do trecho que vai da Avenida Norte até a Avenida Beberibe. Não há previsão para construção das áreas de lazer, ciclovia, pista de cooper e quiosques prometidos. Orçada em R$ 83 milhões (R$ 9 milhões já investidos), não há dinheiro para executar a obra, explica a gestão municipal, devido ao “cenário de crise que o País enfrenta”.
COOPERATIVA - Dentro da Cooperativa Ecovida Palha de Arroz também há lixo. Mas com um tratamento diferente do que existe ao longo da Avenida Professor José dos Anjos. Trinta e cinco pessoas, sendo 33 mulheres e dois homens, separam papel, vidro, papelão, plástico, alumínio. Depois colocam numa prensa e formam fardos de até 400 quilos. Quando juntarem três toneladas – até agora somam uma tonelada – vão vender. O trabalho, que começou em 5 de julho, segue todos os dias de segunda à sexta-feira das 8h às 17h, com duas horas de intervalo para almoço.
“Saímos das ruas, agora não levamos sol e chuva. Trabalhamos com equipamentos de proteção e vamos vender diretamente para as empresas, sem passar pelos atravessadores. O ganho será maior”, comemora a presidente da cooperativa, Maria José dos Santos, 45.