SOLIDARIEDADE

Um ano após corrente solidária, mãe de três meninos com deficiência continua a pedir ajuda

Família ganhou um terreno, e vizinhos ajudaram a construir o novo lar, mas o futuro ainda é incerto

Cinthya Leite
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Cinthya Leite
Publicado em 09/08/2016 às 6:04
Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Família ganhou um terreno, e vizinhos ajudaram a construir o novo lar, mas o futuro ainda é incerto - FOTO: Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Há seis meses, a dona de casa Sibele Monteiro da Silva, 38 anos, realizou o sonho de sair do alto de uma barreira, no Córrego do Eucalipto, no bairro de Nova Descoberta, Zona Norte do Recife, onde morava em condições sub-humanas num só cômodo com cinco filhos (três deles com deficiência múltipla). Graças a uma corrente de solidariedade que nasceu há exatamente um ano, após a TV Jornal e o Jornal do Commercio contarem a história de precariedade da família, Sibele e a irmã receberam a doação de um terreno na Comunidade de Irmã Dorothy, no bairro da Imbiribeira, Zona Sul do Recife. A casa foi levantada com ajuda de voluntários, que doaram materiais de construção e levaram a obra adiante. Ainda assim, a família continua em situação de vulnerabilidade social.

“Vivemos numa condição menos desagradável, mas ainda precisamos de apoio. Sofro com muitas dores por causa da minha hérnia (abdominal). Meu desejo agora é fazer a cirurgia, mas o hospital não dá previsão”, conta Sibele. No terreno, foram construídos dois espaços (cada um com sala, cozinha, dois quartos e banheiro): um para ela e outro para a irmã, Cilene Monteiro da Silva, 31, que ajuda nos cuidados com os três sobrinhos com deficiência múltipla: Pedro, Salomão e Washington, 8, 15 e 17 anos, respectivamente. Vivem com um salário mínimo, vindo do auxílio-doença assegurado a Salomão.

Os meninos ganharam cadeiras de rodas adaptadas e passeiam no campo em frente ao lar onde vivem. Quando estavam no Córrego do Eucalipto, viviam isolados pelo risco de locomoção que enfrentavam no alto de uma barreira. A casa onde moram agora fica num terreno plano. É rodeada de lixo, restos de construção, entulhos e esgoto. O cenário é um criadouro em potencial para doenças transmitas pelo Aedes aegypti. “Tive chicungunha há quatro meses. Nem em pé conseguia ficar. Salomão, Pedro e Laiza (a filha de 12 anos) também adoeceram”, informa Sibele, que usa água do poço com cor de ferrugem e cheiro muito forte para cozinhar, limpar a casa e lavar roupas.

“Também ficamos tristes porque os meninos não estão mais fazendo fisioterapia. Quando vivíamos no Córrego do Eucalipto, isso não era possível porque morávamos num cômodo e, por isso, não dava para colocar esteiras para as atividades. Agora, espaço não falta, mas ninguém aparece mais”, lamenta Cilene. Ela acrescenta que, desde fevereiro, quando se mudaram para a Comunidade de Irmã Dorothy, receberam poucas visitas de profissionais de saúde. “Apenas há um mês, vieram um dentista e um assistente social depois que a líder comunitária foi falar sobre a nossa situação num posto de saúde.”

Em nota, a Secretaria de Saúde do Recife (Sesau) esclarece que a família reside numa área descoberta pela Estratégia Saúde da Família, cuja unidade de referência é a Unidade Básica Tradicional Romildo Gomes, na Imbiribeira, onde Sibele já foi consultada por um clínico geral. A Gerência do Distrito Sanitário VI, do qual a Imbiribeira faz parte, diz que os três meninos já foram atendidos por uma odontóloga. Dois estão em tratamento no Centro de Especialidade Odontológica da Policlínica do Pina. A Sesau acrescenta que foram feitas duas visitas à casa de Sibele: uma com a presença de assistente social no dia 7 de junho e outra em 15 de junho, que contou com especialista em saúde bucal distrito, que estava sem assistir a família antes de junho porque só passou a ter conhecimento do caso após ser contactado pela líder comunitária, como contou Cibele.

O Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip) informa, em nota, que Sibele teve o último atendimento no dia 21 de junho. Foram solicitados exames pré-operatórios para a realização da intervenção cirúrgica para correção de hérnia. “A instituição orienta que, após a conclusão dos exames, a paciente retorne ao serviço para dar continuidade ao tratamento”, diz o Imip.

Já a Secretaria de Educação do Recife informou que garantiu vagas para os jovens na Escola Municipal Júlio de Oliveira, na Imbiribeira. Os três irmãos tiveram ontem o primeiro dia de aula. Eles contam com transporte inclusivo e apoio individualizado na unidade de ensino. Quem quiser ajudar a família pode entrar em contato com Cilene: 9.8881-2783.

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