VIOLÊNCIA

Medo e incerteza com os assaltos a banco no interior

Quadrilhas especializadas explodem agências e causam pânico em cidades pernambucanas

JC Online
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Publicado em 20/08/2016 às 18:45
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Quadrilhas especializadas explodem agências e causam pânico em cidades pernambucanas - FOTO: Diego Nigro/JC Imagem
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A população do interior de Pernambuco está no meio de uma guerra. Cidades pacatas e que tinham rotinas extremamente previsíveis agora convivem com o medo e a incerteza, que vêm na forma de carros possantes, homens com armamento pesado, explosões e tiros. Tudo para roubar dinheiro vivo de agências bancárias, principalmente do Banco do Brasil, presente na maioria dos 184 municípios. A onda de assaltos a instituições financeiras já chegou a 24 cidades pernambucanas só no primeiro semestre deste ano, sendo 21 no interior. As investidas cresceram 17,7% entre janeiro e julho de 2015 e o mesmo período deste ano, a maior parte com explosões e uso de maçaricos. Um problema que desafia governo e bancos na busca por uma solução rápida.

Os criminosos não encontram dificuldade para agir. As investidas duram entre cinco e dez minutos e seguem um padrão. Entre meia-noite e 3h, quando as ruas estão desertas, grupos de dez a 15 homens chegam em veículos de médio e grande porte. Bloqueiam os principais acessos à cidade com grampos, para dificultar a eventual chegada de policiais. Vão à agência bancária do município e detonam explosivos plásticos de grande potência. Depois da explosão, atiram para o alto e, por vezes, nas delegacias e destacamentos das Polícias Civil e Militar, como forma de intimidar a população e os poucos agentes de segurança dos locais. Recolhem o dinheiro dos caixas eletrônicos e dos cofres e fogem por rotas alternativas. Deixam a destruição física, a afronta ao Estado e os prejuízos a uma população já carente de serviços.

O mapa das ocorrências revela algumas peculiaridades. As investidas ocorrem em cidades na divisa com outros Estados, principalmente Paraíba e Alagoas, para onde os bandidos fogem depois de cometerem os crimes. “São três quadrilhas formadas por pessoas de Pernambuco e de outros Estados, e que se utilizam dessa prática para dificultar as investigações”, explica o secretário de Defesa Social, Alessandro Carvalho. A área mais afetada é a Zona da Mata Norte e o Agreste, na divisa com a Paraíba. Um cinturão de municípios proximos – Feira Nova, Riacho das Almas, Cumaru, Passira, Bom Jardim, João Alfredo e Machados – já foi vítima das quadrilhas.

Segundo Carvalho, os grupos têm objetivos distintos. “Alguns se juntam para realizar a ação e depois apenas dividir o dinheiro. Outros utilizam o produto dos crimes para investir no tráfico de drogas, principalmente na compra de maconha e crack para revenda”, explica o secretário. 

“O confronto é muito desigual. Eles vêm com armamento pesado, em maior número. A gente não tem como se defender. Primeiro a nossa vida”, afirma, em reserva, um policial militar lotado no destacamento de uma cidade da Zona da Mata. Ele estava de plantão quando a agência do Banco do Brasil do município foi explodida, no primeiro semestre deste ano. “Chamamos reforços, mas as viaturas tiveram os pneus furados pelos grampos e os criminosos fugiram”. 

Naquela noite, eram apenas dois PMs no destacamento. Cada um com uma pistola ponto 40 e um fuzil 762. Na garagem, uma Palio Weekend em mau estado de conservação e pneus carecas. Lá fora, um exército de quinze homens armados de fuzis e circulando em veículos novos e potentes. Não havia como confrontá-los. Primeiro a vida.

O sucesso das investidas se deve a um meticuloso planejamento por parte dos criminosos. “Eles analisam em quais cidades há reforço policial, observam a rotina. E também chegam a abortam ações quando percebem que o policiamento está presente de forma mais efetiva em determinadas cidades”, comenta o secretário.

No início de julho, uma quadrilha que se preparava para roubar o Banco do Brasil (BB) de Surubim, na Zona da Mata Norte, foi presa antes de consumar o ato. No dia 12 do mesmo mês, quatro criminosos que tentaram investir contra o BB de Buenos Aires, também na Mata Norte, foram mortos em confronto com a PM.

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