Uma praça com 19 boxes para venda de livros, quatro árvores frondosas espalhando sombra e 14 bancos à espera de quem queira se sentar teria, em tese, ferramentas para ser um oásis no Centro do Recife. No entanto, a Praça do Sebo, no bairro de Santo Antônio, dona desse cenário, completa 35 anos nesta sexta-feira (26), escondida entre a Avenida Guararapes, Avenida Dantas Barreto e Rua Siqueira Campos.
Em todo o Centro, não há uma única placa de sinalização indicando a localização do sebo. Mas como o endereço é fácil de ser encontrado, moradores e visitantes da cidade estão convidados para celebrar o aniversário de fundação do espaço, às 10h de sábado (27) com lançamento de livro, música, brincadeiras e exposição de um projeto arquitetônico propondo o reordenamento do lugar.
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A festa é organizada pelos livreiros e pela biblioteconomista Ana Carolina Sobral, autora da publicação Alfarrábios no Coração do Recife: do sentido de espaço público à mediação cultural na Praça do Sebo, que será lançada neste sábado. A intenção do grupo, na verdade, é criar uma série de eventos culturais para resgatar a praça como área de convivência.
“Temos ideias e projetos, mas esbarramos na burocracia e na falta de dinheiro”, declara a comerciante Cátia Sales, que tem boxe na praça há 18 anos. Uma das propostas é estabelecer um calendário fixo e realizar atividade variadas. “Poderíamos ter o Mês Ariano Suassuna, o Mês Clarice Lispector, o Mês Mauro Mota, e criar ações a partir dos trabalhos dos autores”, diz Ana Carolina.
Essa mobilização teve início em agosto de 2013, no aniversário de 32 anos da Praça do Sebo, com recital de poesia, apresentação teatral, bolo em formato de livro e exposição de fotos. Em abril de 2014, aproveitando o dia do livro, houve um bate-papo com autores e exposição fotográfica. “No mês de outubro fizemos atividades para crianças”, informa Ana Carolina. Em 2016, ainda não foi realizado nenhum encontro.
“Por falta de recursos, o primeiro evento de 2016 é a comemoração dos 35 anos da praça”, afirma a biblioteconomista. Ela e Cátia Sales estão fazendo campanha nas redes sociais para tentar conseguir um (ou mais) padrinho para financiar a manutenção, segurança e eventos culturais. “Seria ótimo se a praça fosse adotada”, ressalta Cátia.
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Segundo ela, os livreiros pediram policiamento, guarda municipal e sinalização, três anos atrás. “Nada foi feito. Segurança aqui essencial”, alerta. A Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife concluiu, em agosto de 2013, obra de recuperação da praça. Investiu R$ 135 mil, mas por falta de manutenção os desgastes são visíveis, em especial no piso de pedra esburacado.
Em nota enviada pela assessoria de imprensa, a Emlurb alega que faz limpeza e manutenção de forma permanente. “No entanto, a área sofre com ações de depredação recorrentes, o que prejudica a boa conservação do espaço”, diz o texto da nota. A empresa informa, ainda, que recuperou trechos danificados do pavimento no fim de 2015.
ALFARRÁBIOS
O livro de Ana Carolina é resultado da pesquisa que ela fez na Praça do Sebo para o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), defendido em julho de 2015 na Universidade Federal de Pernambuco. Estimulada por professores, ela transformou o TCC na publicação Alfarrábios no Coração do Recife,editado com recursos próprios pela Pé de Letra, com capa feita de papelão. “É um livro cartonero”, diz.
A capa artística é uma metáfora com a Praça do Sebo”, comenta a autora, que visitava o lugar quando criança, acompanhada da mãe. “Guardei uma visão romântica, com verde, sombras e venda de livro ao ar livre. Muita coisa mudou e resolvi ajudar a recuperar aquele espaço”, declara. A publicação custa R$ 20 e, depois do lançamento, pode ser adquirida nos boxes da Praça do Sebo.
Frequentador da praça há mais de 12 anos, o empresário Ivan Arena, 30, lamenta a situação. “O lugar poderia estar muito melhor se tivesse manutenção. Do jeito que está, não é uma área atraente e convidativa, é tudo mal cuidado e pouco divulgado. Uma pena, compro livros aqui com preços melhores”, declara Ivan Arena.
