SEGURANÇA

Crimes no Estado podem aumentar

Delegados entregam gratificação por jornada extra e deixam unidades com menos profissionais

JC Online
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Publicado em 08/09/2016 às 9:51
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Os números da criminalidade em Pernambuco podem aumentar. Desde o último dia 1º, 200 delegados da Polícia Civil não estão mais no Programa de Jornada Extra de Segurança (PJES), que é uma gratificação do governo para que os profissionais da área de segurança pública cumpram horários de trabalho mais extensos. O benefício visa suprir o déficit – estimado em 50% pelas entidades sindicais de delegados e agentes – de efetivo das corporações. 

A decisão dos delegados foi devido à negativa, por parte do governo, no final de agosto, de atender a pautas da categoria, como incorporação de gratificações e melhorias estruturas nas unidades. O resultado é um menor número de profissionais nas delegacias, e, com isso, o fantasma do aumento dos índices de criminalidade, a exemplo do que aconteceu no segundo semestre de 2015. No segundo semestre daquele ano, um movimento semelhante resultou na diminuição de 18% na identificação de autores de homicídios e de 46% na dos demais inquéritos. 

Segundo os delegados, a decisão foi motivada pelo que eles consideram uma omissão continuada do governo com relação à corporação. “O salário inicial de um delegado – R$ 6 mil líquidos – é o pior entre os Estados brasileiros e não há previsão de aumento. A maioria dos imóveis onde funcionam delegacias, principalmente no interior, é de casas alugadas, que não têm instalações adequadas. Também falta material de limpeza e de escritório”, afirma o presidente da Associação dos Delegados de Polícia de Pernambuco (Adeppe), Francisco Rodrigues.

Como exemplo de abandono, ele cita a delegacia de Carpina, na Zona da Mata Norte, que na última semana foi arrombada pela terceira vez apenas este ano. Mas não é preciso sair do Grande Recife para encontrar unidades em mau estado de conservação. No bairro de Santo Antônio, no Centro da capital, o prédio onde funcionam o arquivo da Polícia Civil e a Delegacia da Ilha Joana Bezerra são exemplos. Pilhas de inquéritos estão jogadas nos corredores, sem qualquer ordenamento. A porta da delegacia não tem trinco: é preciso puxar um cordão amarrado à fechadura. 

No bairro da Macaxeira, na Zona Norte, a delegacia que atende à comunidade é uma das mais precárias da cidade. Das duas celas, uma está cheia de entulhos, a porta da sala do delegado não tem trinco, e os próprios agentes compram o material de limpeza que é utilizado na unidade. “A delegacia de Afogados está sem água devido a um débito de seis meses com a Compesa. A ligação só pode ser refeita após a quitação”, explica Rodrigues.

Após o desfile cívico-militar de Sete de Setembro, na manhã de ontem, o governador Paulo Câmara lamentou o movimento deflagrado por delegados da Polícia Civil, e afirmou que pretende contar “com aqueles que querem trabalhar” para combater a criminalidade no Estado. “Ficou provado que, no passado, um movimento semelhante da categoria teve impacto negativo nos índices de violência. O que a gente espera é compreensão por parte desses servidores, uma vez que a situação econômica do Estado não permite que seja concedidos reajustes salariais”, disse. Segundo o governador, a conclusão do concurso para 100 novos delegados, com a formação dos profissionais, no início de 2017, vai possibilitar o fim da adoção do PJES para essa categoria.

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