Foram necessários pouco mais de cinco meses após a criação, em maio último, da comissão multidisciplinar encarregada de conter os assaltos a ônibus na Região Metropolitana do Recife (RMR), para que o governo do Estado finalmente oficializasse, ontem, o Plano Estadual de Enfrentamento a Assaltos a Ônibus. As ações visam mudar uma realidade alarmante para os dois milhões de usuários do sistema: de janeiro a outubro deste ano, foram registrados 1.033 ocorrências em coletivos, contra 704 do mesmo período em 2015. Um aumento de 46%.
A comissão é formada pela Secretaria das Cidades, Polícias Civil e Militar, além do Detran. Entre as medidas anunciadas ontem estão a implantação de aparelhos de rastreamento em toda a frota de cerca de 3 mil veículos (atualmente são 1.941 ônibus com o dispositivo) e a colocação de quatro câmeras no interior de cada coletivo. Haverá mudanças nos boletins de ocorrência relativos a assaltos em ônibus: será preciso descrever em que locais os criminosos subiram e desceram, além de fornecer as matrículas de motorista e cobrador do veículo em questão. “É uma forma de mapearmos a frequência e os lugares onde esses roubos ocorrem”, explca o delegado Joel Venâncio, que integra a comissão.
EXPERIMENTO
Segundo ele, o grupo vinha trabalhando em caráter experimental há três meses, período em que conseguiu reduzir as ocorrências. “Em agosto, tivemos 145 assaltos. Reduzimos para 132 em setembro e fechamos outubro com 107 casos”. O delegado explica que existem poucas pessoas realizando muitos crimes desse tipo. “Um exemplo é a área da BR-101 sul. Conseguimos identificar e prender um grupo, e notamos que as ocorrências despencaram naquela localidade”.
As empresas terão quatro meses para adaptar os veículos às novas câmeras e ao sistema de rastreamento. No prazo de dois meses deverá ser lançado um aplicativo para celulares em que vai ser possível notificar os casos de assalto, em tempo real, para o Centro Integrado de Operações de Defesa Social (Ciods).
“A orientação que recebemos do governador Paulo Câmara foi unir esforços no sentido de combater essa modalidade criminosa. Decidimos investir na integração dos trabalhos do Grande Recife e das polícias”, comenta o secretário estadual das Cidades, Francisco Papaléo.
A insegurança nos coletivos da RMR motivou, na manhã de ontem, mais uma manifestação dos rodoviários. A categoria paralisou as atividades entre 4h e 8h, numa alerta para a o número de assaltos nos ônibus que circulam no Grande Recife (alguns aproveitaram para se juntar às manifestações contra a PEC 55, que determina o controle de gastos pelo governo e que tramita no Senado Federal).
O dia começou complicado para quem precisou se locomover por meio de coletivos. Os principais terminais integrados ficaram lotados, e os passageiros, sem saber como fazer para chegar em tempo a compromissos como trabalho e escola. Mesmo com o transtorno de não poder chegar aos respectivos destinos, muitas pessoas apoiaram o movimento, pois reconhecem a precária situação da segurança nos veículos. “A população sofre muito com a violência, principalmente quem anda no BRT (ônibus de trânsito rápido). O governo precisa olhar com cuidado para essa questão”, disse o comerciário Sílvio Freitas, que passou três horas – das 5h30 às 8h30 – no Terminal Integrado da PE-15, em Olinda, esperando por um coletivo para ir ao trabalho, no município de Igarassu, no Grande Recife.
Pouco depois das 8h, os ônibus começaram a circular normalmente.
