URBANISMO

A agonia sem fim do Memorial Arcoverde

Parque sofre com a falta de segurança e de infraestrutura

JC Online
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JC Online
Publicado em 25/11/2016 às 8:00
Foto: Ashlley Melo/JC Imagem
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Uma área de 80 hectares, entre o Recife e Olinda, poderia ser um dos principais equipamentos de lazer das duas cidades. Localizado no bairro de Salgadinho, o Parque Memorial Arcoverde atravessa anos sem manutenção, está jogado à própria sorte. É hoje um grande espaço vazio e maltratado.

Na falta de capinação, o mato cresce sem resistência. Mal cuidados, os equipamentos para exercícios físicos são hoje amontoados de ferrugem. Nas quadras, o piso esburacado representa risco para os frequentadores. Quase todas as tampas da calha que circunda a pista de cooper estão quebradas. A maior parte das telas de proteção do parque foi retirada. O local virou depósito para estruturas de ferro que estão sendo usadas nas obras do Corredor Norte-sul do BRT (ônibus de trânsito rápido). As passarelas de pedestre que faziam a comunicação entre as duas partes do parque não existem mais. Ficaram apenas as estruturas de concreto que as sustentavam. Banheiros são artigo de luxo no Memorial: os que existem estão trancados.

Foto: Ashlley Melo/JC Imagem
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Os problemas não são só estruturais. A falta de segurança também afasta o público. “A gente só vê as pessoas andando nas primeiras horas da manhã, e sempre em grupo. Tem muito assalto aqui dentro”, diz o porteiro José Paulo da Silva, que mora no bairro de Campo Grande, Zona Norte do Recife, frequenta o parque diariamente. São apenas três policiais militares para patrulhar os 80 hectares do local. Detalhe: são todos da reserva, ou seja, têm idade mais avançada e, por isso, fôlego e mobilidade reduzidos. Trabalham por 24 horas seguidas, até darem lugar à turma seguinte. Quando escurece no parque, até eles se recolhem ao precário alojamento da Polícia Militar, embaixo do Viaduto Luiz Delgado. “Não vale a pena sair quando está escuro, pois a bandidagem toma conta”, diz um deles, pedindo para não ser identificado. “Usam todo tipo de droga, roubam as pessoas nas paradas de ônibus e depois jogam os documentos delas no mangue”, completa.

Em plena luz da manhã, no dia em que a reportagem foi apurada, a equipe do JC recebeu de um dos PMs a orientação para não ir até as imediações do campo principal de futebol, nas margens do Rio Beberibe. “Ali é o antro dos marginais. Eles roubam quem passa, levam principalmente celulares.” A reportagem só foi ao local depois que outro policial militar se prontificou a acompanhá-la.

O parque foi inaugurado no dia 16 de dezembro de 1994, no apagar das luzes da gestão do governador Joaquim Francisco (1991-1994). O projeto coube ao arquiteto e paisagista Roberto Burle Marx e o custo da obra, à época, foi de R$ 8 milhões. O documento original previa uma ponte de pedestres sobre o Rio Beberibe, praça de alimentação e estações para embarque e desembarque de ônibus, além de estacionamentos. Nada disso saiu do papel.

Atualmente, o uso mais comum do Memorial Arcoverde é como palco para circos e estacionamento para quem vai ao Carnaval de Olinda. E mais: como pista de carros de corrida por controle remoto e local de treinamento para motoristas e motociclistas iniciantes.

A nota destoante dentro do caos que é o Memorial Arcoverde chama-se Espaço Ciência. O centro de estudos e aprendizagem, com 120 mil metros quadrados – parte em Olinda, outra no Recife – é limpo, organizado, tem boa frequência e é referência no Estado. 

LAMENTO

O arquiteto e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Luiz Vieira, que participou do projeto original do Memorial Arcoverde com Burle Marx, lamenta o atual estado do equipamento urbano. “Dá muita pena ver uma área com todo aquele potencial e sem o mínimo de cuidado”, diz. Segundo ele, é preciso um novo projeto para requalificar o ambiente e torná-lo mais atrativo à população. “Apesar de a manutenção ser importante, não dá para ficar apenas em medidas paliativas.”

Vieira cita como exemplo a falta de cuidado com o acesso ao parque. “Ele está no meio de um eixo viário de grande velocidade. Deveria haver algum mecanismo, como lombada eletrônica, para reduzir a velocidade dos veículos, o que facilitaria o acesso.”

O governo do Estado afirma que estuda, em parceria com a iniciativa privada, um projeto para recuperação do Memorial Arcoverde, mas as negociações ainda estão no início. Enquanto a requalificação não vem, a administração afirma que vai prosseguir com os serviços de manutenção da área.

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