Guaribas

Desmatamento ameaça macacos guaribas no município de Água Preta

A Grota do Inferno, no Engenho Sacramento, é o único local onde os macacos guaribas são encontrados em Pernambuco

Da Editoria Cidades
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Publicado em 26/11/2016 às 9:50
Foto: Julianne Moura/cortesia
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A derrubada de árvores de mata atlântica no Engenho Sacramento, em Água Preta, no interior de Pernambuco, está colocando em risco a população de guariba que habita a região. De acordo com a bióloga da Universidade Federal Rural (UFRPE), Maria Adélia Oliveira, o cenário é preocupante porque trata-se do único local onde é encontrada essa espécie de macaco em todo o Estado.

Cerca de 20 animais, no máximo, vivem na Grota do Inferno, uma das matas do Engenho Sacramento, que vem sendo destruída com mais intensidade nos últimos dois meses. O guariba, imortalizado na música Sebastiana, composição de Rosil Cavalcanti (1915-1968), famosa na voz do paraibano Jackson do Pandeiro (1919-1982), aparece na lista de bichos ameaçados de extinção, na categoria vulnerável, do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio).

Foto: Julianne Moura/cortesia
O guariba-de-mãos-ruivas do Nordeste está na lista de animais ameaçados do Brasil, como vulnerável - Foto: Julianne Moura/cortesia
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Em Pernambuco, os guaribas-de-mãos-ruivas são encontrados só no Engenho Sacramento, em Água Preta - Foto: Julianne Moura/cortesia
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O som alto e rouco que o macaco emite para se comunicar está diminuindo por causa do desmatamento - Foto: Julianne Moura/cortesia
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O macho adulto do macaco guariba-de-mão-ruiva pesa de 5 a 9 quilos. A fêmea oscila de 3 a 7 quilos, - Foto: Julianne Moura/cortesia
Foto: Maria Adélia Oliveira/cortesia
Os guaribas-de-mãos-ruivas vivem na Mata Grota do Inferno, do Engenho Sacramento, em Água Preta - Foto: Maria Adélia Oliveira/cortesia
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Derruba de árvores na Mata Grota do Inferno está ameaçando os guaribas no Engenho Sacramento - Foto: Maria Adélia Oliveira/cortesia
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Na área devastada da Grota do Inferno, em Água Preta, mora uma população estimada de 20 macacos - Foto: Maria Adélia Oliveira/cortesia
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Pesquisadores encontraram pranchas para caixão de defunto feitas com árvores da Grota do Inferno - Foto: Maria Adélia Oliveira/cortesia

 

“Por causa do desmatamento, já foram vistos macacos guaribas (Alouatta belzebul) tentando fugir pela plantação de cana carregando filhotes nas costas”, relata Maria Adélia. Ela esteve no engenho semana passada e se deparou com barulho de motosserra, tonel com gasolina e prancha de madeira para caixão de defunto na Grota do Inferno. “A madeira foi processada na mata mesmo”, observa a bióloga e primatologista

Macacos de pelos pretos e extremidades avermelhadas (mãos, pés e cauda), os guaribas habitam a mata atlântica do Nordeste brasileiro e o oeste da Amazônia. “Enquanto no Nordeste a população está em declínio acentuado, na Amazônia ela é mais equilibrada”, comenta a professora. Há registro da presença do Alouatta belzebul em matas da Paraíba, em duas localidades de Alagoas e numa mata entre a Paraíba e o Rio Grande do Norte, diz ela.

A Grota do Inferno, em Água Preta, município da Zona da Mata Sul do Estado, tem 216 hectares, é uma área particular e não é considerada de preservação. “Corresponde à reserva legal do engenho, um percentual de mata que precisa ser mantido”, informa Maria Adélia. As invasões, acrescenta, começaram logo depois de os proprietários serem notificados para desocupar a casa-grande, numa disputa familiar. “A grota ficou abandonada.”

Ela acionou a Companhia Independente de Policiamento de Meio Ambiente (Cipoma), que já vistoriou a mata. Também esteve no local com a prefeitura e na próxima semana vai discutir o assunto com a promotoria de Água Preta. O guariba é uma espécie que não sobrevive em cativeiro.

PESQUISA

Maria Adélia é co-orientadora da pesquisa de mestrado de Julianne Moura da Silva sobre os guaribas da Grota do Inferno. Durante 20 meses, de janeiro de 2013 a outubro de 2014, Julianne estudou o comportamento de um grupo de animais e constatou que a redução da mata atlântica está provocando mudança no padrão de vocalização dos bichos.

“O grito alto e rouco, que os macacos guaribas emitem no fim da tarde e no começo da manhã, e que se ouve a cinco quilômetros de distância, não tem mais a mesma frequência e regularidade”, alerta Maria Adélia. “Há relatos na literatura de até 200 roncos, também chamados de canto, em um mês. Eu ouvi apenas 19 durante a pesquisa”, declara Julianne.

Guaribas cantam para se comunicar com outros grupos, defender o território e se alimentar, diz Julianne. “Como estão cada vez mais isolados num fragmento de mata, eles vocalizam e não têm retorno. Pela ausência de resposta, estão deixando de usar essa ferramenta de comunicação”, observa. Associados a insetos escarabeíneos, os primatas contribuem com a cadeia do reflorestamento, acrescenta.

“O besouro-rola-bosta usa as fezes dos guaribas para se alimentar, guardar os ovos e servir de abrigo. Ao enterrar as sementes que o macaco comeu, o inseto ajuda na preservação e germinação da nova planta”, relata. Julianne defendeu a dissertação – Ecologia, conservação e comportamento de um grupo de guaribas-de-mãos-ruivas no município de Água Preta – no mestrado em biologia animal da Universidade Federal de Pernambuco em 2015.

De acordo com Julianne, o macho adulto pesa de 5 a 9 quilos e a fêmea adulta oscila de 3 a 7 quilos. A gestação dura de 7 a 8 meses e nasce apenas um filhote de cada barriga.


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