O policial civil Wilson Ferreira Barbosa poderia estar vivo se os assaltantes que o mataram, no início da noite da segunda-feira (19), no bairro da Madalena, Zona Oeste, não estivessem violando a liberdade condicional concedida a eles pela Justiça. No dia 23 de maio deste ano, Luciano Rodrigues de Amorim, 41 anos, conhecido como “Lu do Milhão”, foi liberado do Centro de Triagem e Observação Professor Everardo Luna, em Abreu e Lima, onde cumpria uma pena total de 27 anos por dois assaltos a bancos.
Ele foi baleado pelo policial quando tentava assaltar a agência do Itaú da Avenida Caxangá. Escondidos, dois de seus comparsas atiraram pelas costas de Wilson e o mataram. Luciano foi deixado pelos outros criminosos na UPA de Nova Descoberta, onde foi preso e encaminhando para o Hospital Getúlio Vargas (HGV), no Cordeiro, onde se encontra em custódia da Polícia Militar.
CONDICIONAL
Embora a cúpula da Polícia Civil não confirme, outro suspeito de ter participado do assalto é Luiz Antônio Cavalcanti Filho, conhecido como Sabiá, 46 anos. Ele seria um dos executores do policial civil. Luiz Antônio recebeu liberdade condicional no dia 5 de julho deste ano. Pela lei, ambos deveriam se apresentar mensalmente ao Patronato Penitenciário de Pernambuco, no bairro de Santo Antônio, área central da cidade, para relatórios de rotina. A Secretaria Executiva de Ressocialização (Seres) não soube informar se os dois estavam frequentando as audiências. “De qualquer forma, cometer um crime nas ruas já é uma flagrante violação de liberdade condicional”, conta com magistrado com atuação criminal.
Wilson foi morto com cinco tiros. Um deles no rosto, quando já estava caído no chão, num claro sinal de execução. Ele estava na agência bancária para sacar uma quantia em dinheiro, quando Lu do Milhão chegou, atirando na porta de vidro. O policial ainda protegeu, com o corpo, uma outra cliente, enquanto disparou contra o criminoso. Mas, ao sair da agência, foi surpreendido pelos comparsas de Luciano, que davam cobertura à investida.
Lu do Milhão tem um vasto currículo no roubo de bancos. Em 1999 foi preso no Estado do Ceará, de onde fugiu quatro anos depois. Em 2012, foi capturado no Recife. Novamente foragido, foi preso em 2013 após participar de um assalto à agência do HSBC no bairro da Ilha do Leite, área central. Luciano foi um dos líderes de uma das mais violentas rebeliões ocorridas no sistema prisional de Pernambuco, em janeiro de 2015. Na ocasião, três pessoas – dois detentos e um policial militar – morreram em confrontos no Complexo do Curado, bairro do Sancho, Zona Oeste. Mesmo com todas essas credenciais, estava em liberdade condicional desde maio.
No final da tarde de ontem, o corpo de Wilson foi sepultado no Cemitério de Santo Amaro, na área central do Recife. Muitos policiais, entre agentes, delegados e escrivães, foram prestar homenagens ao colega. O secretário de Defesa Social, Ângelo Gioia, e o chefe de Polícia Civil, Antônio Barros, acompanharam o cortejo. Houve salva de tiros feita por seis policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), unidade de elite da corporação.
Também presente ao sepultamento, o presidente do Sindicato dos Policiais Civis, Áureo Cisneiros, cobrou um reaparelhamento da entidade. “Nós, que estamos na rua, estamos virando presas para os bandidos. É preciso muito investimento, em equipamento, estrutura e efetivo”.
O chefe de Polícia, Antônio Barros, não quis adiantar detalhes sobre as investigações. “O que eu posso dizer é da nossa indignação por perder um colega dedicado. E que nosso pessoal está na rua para prender as pessoas que praticaram o crime”. Até o final da tarde de ontem, a polícia não tinha localizado os outros integrantes do bando responsável pelo assassinato.