Mobilidade

Desordenamento no entorno de hospitais se perpetua no Recife

Comerciantes que trabalham no entorno de unidades de saúde lutam por ordenamento

Margarette Andrea
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Margarette Andrea
Publicado em 14/04/2017 às 7:40
Ricardo Labastier/JC Imagem
Comerciantes que trabalham no entorno de unidades de saúde lutam por ordenamento - FOTO: Ricardo Labastier/JC Imagem
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Se realocar os ambulantes que atuam nas ruas do Recife sempre é motivo para queda de braço entre a categoria e a prefeitura, no entorno dos hospitais acontece o inverso: os comerciantes querem sair das calçadas, mas o município não consegue retirá-los. Um dos grandes desafios da Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano (Semoc) é multiplicar o projeto executado no Hospital da Restauração (HR), pelo governo do Estado, que construiu uma praça de alimentação no estacionamento da unidade em 2011, com jardins, mesas, bancos e quiosques padronizados.

Enquanto a solução não vem, o que se vê no entorno dos hospitais são calçadas totalmente ocupadas por barracas dos mais diversos tipos e tamanhos e alimentos sendo manipulados no meio da rua, sem qualquer infraestrutura. Em frente ao Hospital Agamenon Magalhães, no bairro da Tamarineira, Zona Norte da capital, carroças de fruta chegam a parar na via. “Em campanha, Geraldo Julio disse que ia fazer como no HR, mas ficou na promessa”, reclama a ambulante Ivanise Correia, 38 anos, há 11 anos trabalhando no local.

“A gente quer ceder a calçada para a mobilidade dos pedestres, mas também garantir nosso espaço”, afirma a diretora de articulação do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Comércio Informal (Sintraci), Jô Cavalcanti. “Na gestão anterior, a prefeitura nos apresentou projetos de praças de alimentação em todos os hospitais, fez promessas, cadastrou todo mundo e nada. Já sugerimos até um financiamento popular, para os ambulantes pagarem pelas barracas”.

O Hospital das Clínicas, ligado à Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), recuou uma parte de sua área para dar espaço a 50 barracas (outras 70 estão projetadas para o entorno da UFPE) e desde o início do ano passado aguarda que a prefeitura faça a sua parte, instalando os quiosques. “O projeto está pronto e aprovado. Com isso, resolveríamos o desordenamento atual, haveria uma fiscalização da Vigilância Sanitária e os acompanhantes de pacientes poderiam se alimentar com maior segurança”, afirma o gerente administrativo-financeiro do HC, Marcos Viegas.

RECURSOS

O secretário de Mobilidade e Controle Urbano do Recife, João Braga, diz que o ordenamento no entorno dos hospitais é uma de suas prioridades e não foi feito até agora por falta de recursos. “Mas estamos estudando uma solução para cada local. Até o próximo mês vamos começar a resolver o entorno do Hospital de Câncer de Pernambuco (HCP), em Santo Amaro, por meio de parceria com o empresariado”, informa. “Estamos formando comissões nas demais unidades para discutir o assunto. Já temos o cadastramento de todos. Esse comércio é necessário nos hospitais públicos”.

Um antigo cadastramento feito pelo Sintraci indicava 120 ambulantes no HC/UFPE; 36 no Hospital Barão de Lucena; 41 no Agamenon Magalhães; 10 no Getúlio Vargas e 20 no Oswaldo Cruz. Mas os próprios comerciantes afirmam que, com o desemprego, esses números aumentaram. O tema foi discutido em audiência pública no dia 5, por solicitação do vereador Ivan Moraes (Psol).

EXEMPLO

Diferentemente dos outros hospitais públicos do Recife, na maior unidade de emergência do Estado – o Hospital da Restauração – a praça de alimentação ocupada pelos antigos comerciantes da calçada é uma realidade. Inaugurado em junho de 2011, o espaço abriga 38 boxes e dispõe de mesas, cadeiras, lixeiras, bancos, jardins, água, energia elétrica e vigilância. Do lado de fora, outros ambulantes se arriscam a ocupar a calçada e a rampa da unidade, em alguns horários.

“A praça de alimentação faz a diferença em um hospital, mas é preciso ter gestão. Construíram isso aqui e deixaram largado, as plantas morreram e o local estava cheio de ratos e baratas, então a gente fez uma comissão e agora quem cuida somos nós”, relata o comerciante e administrador do espaço, Giovanni da Silva, 48 anos.

Segundo ele, a manutenção é feita com o pagamento semanal de uma taxa de R$ 35 por cada comerciante. “No café da manhã, almoço e jantar aqui está sempre lotado”, comemora. A única queixa de Giovanni são os camelôs que atuam do lado de fora. “Eles sabem o horário que a fiscalização vem, então chegam depois, por volta das 17h30 e ficam até as 23h. Quando saem, jogam o lixo pro lado da gente”.

Acompanhantes, médicos e demais funcionários do HR fazem uso do espaço. “O atendimento é melhor, tem mais conforto (a gente se senta), higiene e segurança”, avalia a técnica de enfermagem Edilene dos Santos, 31. Já a amiga de trabalho Karla Cristina de Barros, 29, diz que tem saudade das barracas na calçada. “Lá, era tudo mais barato. O ruim é que não tinha nem conforto nem segurança, como aqui”.

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