Moradores das Praias de Piedade e Candeias alertam para possíveis desgastes na obra de engorda da orla de Jaboatão dos Guararapes, município localizado no Grande Recife. A perda de parte da areia colocada em 2013, para ampliar a faixa de praia, vem se acentuando nos últimos cinco meses, segundo eles. “Toda maré alta leva um pouco da areia”, afirma Taciana Conceição, que trabalha num bar em Candeias.
O termômetro usado pela comerciária são as pedras que ficavam cobertas pela areia e agora estão expostas na praia. “Essa ventania fora do normal, desde julho, também ajudou a descobrir as pedras”, acrescenta Taciana Conceição. “Moro em Candeias há cinco meses e quando cheguei as pedras não eram visíveis, a perda de areia foi muito rápida”, afirma o gerente de logística aposentado Dinilson Cordeiro Couto de Oliveira.
De acordo com a coordenadora do gerenciamento costeiro da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco (Semas), Andréa Olinto, era esperada a perda de 10% de areia na orla de Jaboatão dos Guararapes, em cinco anos. “Por isso o projeto prevê o monitoramento contínuo das praias, para identificar os pequenos pontos de erosão e repor a areia onde for necessário, sem deixar a situação ficar crítica como antes”, declara Andréa Olinto.
Até 2016, diz ela, a perda de areia na orla de Jaboatão não alcançou 1%. “Porém, estamos vivendo um ano atípico em 2017, com ventos intensos ainda em outubro. Isso acelerou o processo de perda. E a reposição não pode ser feita com essa situação climática de muitos ventos”, destaca. Na avaliação de Andréa Olinto, o saldo da engorda das praias foi positivo. “A obra é de 2013 e o ambiente estava equilibrado até 2016”, observa.
Enquanto a areia diminui em Piedade e em Candeias, moradores e comerciantes de Barra de Jangada informam que a praia está mais larga. “Barra de Jangada está muito estranha, tem areia demais e não era assim”, declara Rosemiro Santos Filho, morador da região há 57 anos. “Antigamente, Piedade e Candeias eram só mar, areia, coqueiro e cajueiro. Na maré seca a gente fazia campo de futebol na praia, hoje não tem espaço para nada”, lamenta.
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Conforme Andréa Olinto, o aumento da faixa de praia em Barra de Jangada é normal. “Após a obra da engorda, houve perda total de areia lá. Agora, ela está voltando. Isso prova que o material não se perdeu, ficou no sistema e está de volta”, explica. Na avaliação de Andréa Olinto, o alerta de moradores é importante. “Eles sofreram muito com a erosão, ganharam a praia novamente e devem ficar atentos para cobrar a manutenção pela prefeitura.”
PROJETO
A engorda da orla de Jaboatão custou R$ 41,5 milhões, com recursos do Ministério da Integração e do município. A prefeitura usou 1,2 milhão de metros cúbicos de areia, retirada de uma jazida em alto mar, para criar uma faixa de praia de 40 metros de largura, num trecho de 5,8 quilômetros de extensão.
Sidnei José Aires da Silva, secretário de Desenvolvimento Econômico e Sustentabilidade de Jaboatão, reconhece pequenos pontos de erosão em Piedade e em Candeias, num trecho de quase um quilômetro do antigo Hotel Dorisol até a Candelária. “São três pontos provocados pelas chuvas intensas deste ano. A engorda está preservada nessa área, que estamos liberando para investimentos do mercado imobiliário”, diz. A reposição será feita após as chuvas e temporadas de vento, com areia estocada em Piedade, adianta.
Da Candelária até Barra de Jangada o desgaste é maior e essa área da orla de Jaboatão continua congelada para novos empreendimentos, avisa o secretário. “Ainda não definimos como será feita a recuperação nesse trecho. Se será apenas com areia ou se haverá necessidade de uma obra mais complexa. Temos uma equipe técnica de monitoramento que faz este acompanhamento”, afirma.
“O mar levou muita areia. Na maré alta, a água chega perto dos prédios”, diz Sandro Rodrigues, apontando a área próxima ao Residencial Candeias. “A prefeitura mede a faixa de areia toda semana, mas dá para ver que o mar já levou uns três metros da engorda”, declara o comerciante da Praia de Piedade Lucas Veríssimo.