Depoimento

''24 anos, poderia ser comigo. Com você'', diz advogada em postagem sobre caso Remís Carla

Sensibilizada com a morte trágica da estudante Remís Carla, a advogada Mariana Teles elaborou um texto em que chama à discussão sobre a violência contra as mulheres

JC Online
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Publicado em 24/12/2017 às 13:12
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Sensibilizada com a morte trágica da estudante Remís Carla, a advogada Mariana Teles elaborou um texto em que chama à discussão sobre a violência contra as mulheres - FOTO: Foto: Divulgação/Facebook
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Sensibilizada com a morte trágica da estudante Remís Carla, 24 anos, a advogada Mariana Teles elaborou um texto em que chama à discussão sobre a violência contra as mulheres. "Não é feminismo. É civismo mesmo. Enquanto a gente precisar discutir o tamanho da saia, a quantidade de bebida, de parceiros ou a cor do batom da mulher, a cultura do machismo continuará a produzir homens que nos matarão", postou em seu perfil no Facebook.

Compartilhamos abaixo a íntegra do texto, que está viralizando no WhatsApp:

"Um nó na garganta. Uma angústia absurda. Dessa vez não foi Mirella, não foi Gisele, não foi Maria. Foi Remís Carla, 24 anos, universitária. Poderia ser comigo, aquela minha amiga da faculdade, a prima do interior. Qualquer mulher.

E a gente precisa continuar discutindo o óbvio. Precisa! Na semana que um magistrado pernambucano ensaia lançar um livro que em capa brada que a lei Maria da Penha potencializa a discriminação no gênero homem, um corpo de mulher é encontrado em Recife e um namorado é preso.

Não é feminismo. É civismo mesmo. Enquanto a gente precisar discutir o tamanho da saia, a quantidade de bebida, de parceiros ou a cor do batom da mulher, a cultura do machismo continuará a produzir homens que nos matarão. Relacionamentos abusivos e violência emocional, que depois se torna física, patrimonial... E quando a gente repara, estamos sepultando mais uma de nós...

24 anos, poderia ser comigo. Com você.

A gente tem medo de beber, de pegar um uber, de esperar na parada de ônibus sozinha, tem medo de entrar no banheiro da balada, tem medo de sair para balada.

A gente, esse ser que nasce com vagina, cresce demonizando o sexo, inicia a sexualidade com o peso de muitas culpas. E se acostuma a ser definida pela forma como senta, fala, se relaciona.

A gente é estatística. Decoração em mesa. Ilustração em tribunal, congresso. A gente é agredida. Toda hora. Todo tempo. Em casa. Na rua.

Mulher não pode ser bonita e competente. Se se relacionar com um homem mais novo, é uma desavergonhada fogosa, se o homem for mais velho, é uma puta querendo subir na vida.

E mulher julga mulher. Nós julgamos a Marcela do Temmer. A Ana Paula do Roberto. A Brigitte do Macrom. Nós julgamos a moça da academia que usa roupa arrochada. A amiga da turma que só bebe com homem. A secretária que usa decote.

Nós temos uma culpa absurda nisso tudo. O machismo é tão forte e inescrupuloso que não é exclusividade do homem.

A gente julga as Marcelas e enterra as Mirelas, as Remís...

A gente não precisa apenas de novas leis. As leis precisam efetivar o que a cultura reconhecer. Chega de fazer pirotecnia política com tragédia. A gente precisa é de postura. Machismo é um problema de educação. De civismo.

Amanhã é Natal, os pais de Mirella, de Kelly, de Paula, de Remís perderam as filhas simplesmente porque nasceram mulher.

E vai faltar um lugar a na mesa. Vai faltar um presente na árvore e uma gargalhada qualquer...

A gente precisa parar de romancear os abusos. A pequena violência, a concessão que começa ingênua e termina num corpo enterrado em estado avançado de decomposição.

A gente precisa falar do óbvio. A gente precisa falar de direitos. A gente precisa falar de mulher.

Mais que falar.

Educar.

Mais que educar.

Respeitar.

Proteger.

DIGNIFICAR.

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