Encontrado na década de 80 no Sítio Furna do Estrago, no Brejo da Madre de Deus, Agreste pernambucano, o crânio de um homem de aproximadamente dois mil anos está prestes a ter o rosto revelado. O ossuário, chamado “Flautista” – já que foi encontrado junto a uma flauta feita de tíbia humana – faz parte do acervo do Museu de Arqueologia da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e será submetido a um procedimento forense de reconstrução facial. O resultado será divulgado no próximo dia 24 de abril.
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O que se sabe, até o momento, é que o crânio pertenceu a uma pessoa do sexo masculino, falecida mais ou menos aos 45 anos de idade. Para reconstruir a face, a primeira etapa do projeto consistiu em digitalizar o material. “Tiramos fotografias do crânio em diversas posições e, a partir dessas imagens, foi feita a reconstituição 3D. Agora, neste segundo momento, vamos fazer a modelagem, com preenchimento de músculo e pele”, explicou a bióloga Roberta Richard Pinto, coordenadora do museu.
Por enquanto, o trabalho será apresentado apenas de maneira virtual. “Até abril, vai ser assim, mas a gente pretende fazer uma modelagem física para botar na exposição”, adianta a coordenadora. Segundo ela, os demais crânios do museu também devem ser submetidos ao procedimento no futuro.
Conhecer o rosto do homem pré-histórico da Furna do Estrago, que vem sendo associado ao Homem Nordestino, é de grande importância para a comunidade científica. “A partir do momento em que a gente conhece o rosto, passa a entender mais sobre alguns aspectos, como a nossa ancestralidade. Isso é extremamente importante para futuros trabalhos sobre relações étnicas, por exemplo”, explica Roberta Pinto.
DESCOBERTAS
As análises preliminares no crânio já permitiram aos pesquisadores determinar certas características da população. Os ossos descobertos no Brejo da Madre de Deus estavam envoltos em tecidos, o que evidencia uma preocupação com os mortos, algo não muito comum na época, de acordo com a coordenadora. Outra informação importante fornecida pelo material é de que a população não tinha alimentação exclusivamente carnívora. Os desgastes e os indícios de processos inflamatórios na arcada dentária permitiram concluir que os homens ancestrais da região também consumiam raízes e vegetais duros. “O crânio diz muita coisa e o rosto pode dizer ainda mais”, salienta a bióloga.
O resultado será exibido durante uma apresentação no Auditório Dom Helder Câmara, no bloco A da Unicap, no dia 24 de abril, às 19h.