Uma mulher trans, aluna do cursinho Vestibular Solidário da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), usou as redes sociais para denunciar agressões verbais e físicas que sofreu durante e após uma festa dentro da instituição, na noite dessa sexta-feira (23). Dália Celeste Hortense da Costa, de 28 anos, conta em um texto publicado neste sábado (24) que participava de comemoração, chamada Cultural, promovida pela Diretoria LGBT da UFPE, no Centro de Educação (CE), na universidade, quando foi abordada de forma grosseira por um homem. "Ao parar próximo ao pólo onde se encontravam os DJs, fui abordada por um sujeito homem cis que interrogou se eu era mulher ou não. Olhando para mim e minhas amigas, afirmei ser mulher. O mesmo debochou", relata.
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Após esse fato, Dália conta que após esse fato, chegou a denunciar a violência transfóbica que havia sofrido a alguns integrantes da diretoria LGBT. No entanto, quando estava voltando sozinha para casa, por volta das 22h, ainda dentro da UFPE, entre os prédios do CE e do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), foi agredida, dessa vez fisicamente, por duas pessoas. "Ao retornar para casa, a caminho da parada de ônibus, jogam uma pedra. Antes que eu pare para vê a direção do ataque, sou abordada por dois homens que me batem no rosto ao ponto em que perco a visão. Em seguida, levo murros que não consigo contar a sequência, até que em uma tentativa certa consigo correr", narra.
Gi Carvalho, coordenadora do Mães pela Diversidade, ONG de apoio à causa LGBT, está acompanhando a história e disse que agressão à Dália se concentrou principalmente no rosto da jovem. "Ela não está podendo falar no momento, está muito abalada psicologica e emocionalmente. Ainda vamos levá-la para fazer exames, mas o seu rosto está inchado. Temos a suspeita de que os agressores jogaram ácido nela, mas isso ainda vai ser confirmado", conta. Gi fala também que Dália não conseguiu ver os rostos dos agressores e nem tem certeza de que o homem que abordou dentro da festa seja o mesmo que tenha participado do ataque ocorrido após a festa. "Recebemos alguns relatos de meninas que o reconheceram de outras situações semelhantes".
A Diretoria LGBT da UFPE se pronunciou sobre o assunto em uma nota publicada em sua página no Facebook. No texto, o órgão expressão "total indignação por mais um lamentável episódio de transfobia" e informa que "a estudante está sendo devidamente assistida e amparada pela nossa equipe. Todas as medidas administrativas já estão sendo tomadas no sentido de cooperar para possível identificação e punição do agressor nas instâncias cabíveis".
A diretora Luciana Vieira disse que a universidade ainda não tem informações de quem pode ser o homem que agrediu Dália verbalmente durante a festa. "A universidade tem câmeras. Vamos solicitar, via Superintendência de Segurança Institucional, que tenhamos acesso a essas imagens para ajudar nessa investigação", pontuou. "Se for identificado que é alguém da universidade, que tudo indica que não é, tudo leva a crer que é alguém, da comunidade da Várzea [Zona Oeste do Recife, onde a UFPE está localizada], vamos tomar medidas administrativas cabíveis".
Comentários transfóbicos
Neste sábado (24), Dália Celeste foi acompanhada por Gi Carvalho na Central de Plantão, bairro de Campo Grande, Zona Norte do Recife, para registrar o Boletim de Ocorrência. Além da agressão física sofrida por Dália, também foram denunciados comentários considerados transfóbicos publicados na postagem da vítima, na qual ela relata o que sofreu. "Trazemos prints para a delegacia", disse.
Nesta segunda-feira (26), será realizado um ato de denúncia contra as agressões sofridas por Dália, a partir das 14h, no Centro de Educação da UFPE. O evento é organizado por movimentos sociais e pela Diretoria LGBT da universidade.