Iniciativa

Projeto empodera gordinhos e faz trabalho de base nas escolas

Ideia do projeto As Mil Faces de uma Plus na Escola é empoderar crianças sobre a questão do peso e impedir que o bullying afete ainda mais suas vidas

Maria Luisa Ferro
Cadastrado por
Maria Luisa Ferro
Publicado em 09/04/2018 às 9:04
Bobby Fabisak/JC Imagem
Ideia do projeto As Mil Faces de uma Plus na Escola é empoderar crianças sobre a questão do peso e impedir que o bullying afete ainda mais suas vidas - FOTO: Bobby Fabisak/JC Imagem
Leitura:

Ouvir xingamentos e piadinhas sobre ser mais gordinha que outras crianças foi rotina durante um bom tempo na vida escolar de Pérola Siqueira, 11 anos. O bullying mexeu na vida da garota, que chegou a sofrer agressões físicas de outros estudantes, trocou de escola cinco vezes e iniciou tratamento psicológico. “Eles me chamavam de baleia, de fedorenta, não brincavam comigo dizendo que eu era gorda”, conta. Pensando em situações como as vividas por Pérola, a pedagoga Samia Veras, 46 anos, estendeu para as escolas o projeto As Mil Faces de Uma Plus. A ação foca no empoderamento de mulheres plus size.

“A ideia é trabalhar com crianças a partir dos 5 anos, com equipe de psicólogos, nutricionista e professores, mostrando que ser gordinha não deve ser motivo de piada”, explica a coordenadora da iniciativa. “Não é apologia à gordura, mas um projeto que preza por sentir-se bem da forma como você está, na escola ou no trabalho, e em qualquer idade”, completa.

Para a mãe de Pérola, a dona de casa Jane Telma Siqueira, 43 anos, o projeto nas escolas é importante, para evitar que outras crianças passem o que a filha passou, e também ajudar o corpo docente a lidar melhor com a temática. “Foi muito difícil, ela não queria mais ir ao colégio. Eu procurava a direção para expor o problema e ninguém fazia nada. Em uma delas, até a professora tinha preconceito. É preciso que esse trabalho de conscientização seja uma parceria entre família e escola”, afirma.

Jane, que também mãe de um menino de 7 anos, percebe que o preconceito atinge mais as mulheres. “Meu filho também é gordinho, mas até hoje não teve problemas. É um reflexo da sociedade, que cobra magreza mais da mulher”, explica.

Já com a estudante Thayná Andrade, 12 anos, o bullying só parou após a expulsão de um dos abusadores. “Era um menino mais velho, que começou a implicar comigo e me chamar de baleia. Conversei com a diretora e ela decidiu expulsá-lo. Depois, nunca mais ouvi piadas”, conta. Para ela, o projeto vai ajudar que casos como esse se repitam. “Seria muito bom para todo mundo. Hoje eu já não ligo para as piadas, mas tem gente que fica triste”, registra.

Atividades

A iniciativa, que começa em maio em 15 escolas públicas e privadas do Grande Recife, propõe ação de conscientização e empoderamento dos 5 aos 17 anos, através de contação de histórias, rodas de conversas e acompanhamento nutricional. Os oito integrantes do projeto são voluntários. “A ideia é passar uma semana nas unidades de ensino. Vamos plantar a semente e deixar que o corpo docente continue o trabalho. Não adianta a gente ensinar se os professores não derem continuidade”, afirma Samia.

Gestora da Escola Municipal Valdemiro Vieira de Albuquerque, na Muribeca, Jaboatão dos Guararapes – a primeira a ser beneficiada – Valéria Peres, 47 anos, acredita que a iniciativa ajudará a comunidade. “Estamos inseridos em área de difícil situação financeira e social. Por isso, me animei com a proposta”, explica. Segundo ela, o corpo docente vai aprender. “Acredito que irá nos ajudar a lidar melhor com o assunto. Nossa expectativa é de que as crianças tenham outra visão delas mesmas e do outro.”

Últimas notícias