ARQUEOLOGIA

Rosto de homem de 2 mil anos será exibido em museu da Unicap

Visitantes poderão assistir a um vídeo sobre o processo de reconstrução do rosto

Editoria de Cidades
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Publicado em 27/04/2018 às 8:02
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Visitantes poderão assistir a um vídeo sobre o processo de reconstrução do rosto - FOTO: Foto: Divulgação
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A partir da próxima semana, quem visitar o Museu de Arqueologia da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), no bairro da Boa Vista, área Central do Recife, poderá conhecer o rosto de um homem que viveu na região do Brejo da Madre de Deus, no Agreste, há dois mil anos. E não qualquer um: o “Flautista”, como é conhecido, é o personagem mais ilustre do museu. O crânio, localizado na década de 80 ao lado de uma flauta feita de tíbia humana, foi submetido a um processo forense de reconstrução facial. O resultado foi divulgado na última terça-feira, durante evento da universidade.

Agora, um vídeo mostrando cada etapa do processo será exibido em um televisor ao lado do expositor onde está o crânio. “Também pretendemos fazer uma modelagem física do rosto futuramente”, explica a bióloga Roberta Richard Pinto, coordenadora do museu. O objetivo, segundo ela, é que outros crânios descobertos no Sítio Furna do Estrago também sejam submetidos ao mesmo procedimento.

Ao todo, foram três meses de trabalho. A primeira etapa consistiu em digitalizar o material, a partir de fotografias. Com auxílio de um programa gratuito para computador, as imagens foram convertidas e ganharam três dimensões. A partir daí, teve início o processo de preenchimento com tecidos moles (músculos e gordura), que durou cerca de sete dias.

“Existe um levantamento feito com centenas de pessoas, no qual vários pontos do rosto são medidos para determinar quanto existe de músculo, gordura e pele no rosto humano. A partir daí, temos uma média. Utilizamos esses parâmetros para desenvolver o trabalho. Já o nariz e os lábios foram reconstruídos a partir do tamanho dos ossos e dos dentes”, explica o designer Cícero Moraes. Ele é o responsável pela exposição Faces da Evolução, uma série de 13 painéis com rostos de hominídeos, exibida no Museu Egípcio e Rosa Cruz, em Curitiba, na Itália e no Peru. Segundo ele, o nível de precisão da técnica, levando em conta a volumetria do rosto, é de 80% a 92%.

Além do 3D designer, o estudo foi acompanhado pelo cirurgião plástico Pablo Maricevich, o historiador e professor do curso de licenciatura em história da Unicap, Luiz Carlos Marques, e os arqueólogos Flávio Moraes, coordenador do Núcleo de Pesquisas e Estudos Arqueológicos e Históricos da Ufal, e Daniela Cisneiros Mützenberg, professora de graduação em arqueologia da UFPE e pesquisadora da Fundação do Museu do Homem Americano.

“Conhecer a face do Flautista comprovou a hipótese de que ele teria características indígenas. Para os índios, isso é extremamente revelador. Alguns deles participaram da cerimônia de apresentação na terça-feira e afirmaram ter reconhecido o rosto dos seus caciques no Flautista. A importância desse trabalho está na questão da ancestralidade e na possibilidade de estudo da diversidade genética”, destaca Roberta Richard Pinto.

SÍTIO ARQUEOLÓGICO

Os ossos do Flautista estão entre os mais de 80 achados localizados no Sítio Furna do Estrago, em 1983. De acordo com os pesquisadores, eles pertenciam a um homem falecido com cerca de 45 anos.

As análises no crânio já permitiram aos pesquisadores determinar certas características daquela população. Os ossos descobertos no Brejo da Madre de Deus estavam envoltos em tecidos, o que evidencia uma preocupação com os mortos, algo não muito comum na época. Outra informação importante fornecida pelo material é de que a população não tinha alimentação exclusivamente carnívora. Os desgastes e os indícios de processos inflamatórios na arcada dentária permitiram concluir que os homens ancestrais da região também consumiam raízes e vegetais duros.
O restante dos ossuários também devem ter os rostos reconstruídos. Mas a exposição que reunirá todos eles só deverá ser vista no próximo ano, de acordo com o designer do estudo.

Assista ao vídeo:

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