Os santos negros chegaram ao Brasil pelas mãos das Irmandades de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e no início da colonização portuguesa foram usados para catequizar escravos. Santa branca que cuida da população negra, Nossa Senhora do Rosário era muito venerada na Europa e os padres jesuítas trazem essa tradição para cá, informa o historiador e professor da UFPE Severino Vicente da Silva.
De acordo com o museólogo e pesquisador aposentado da Fundação Joaquim Nabuco Fernando Ponce de León, as Irmandades do Rosário dos Pretos são instituições com longa permanência em Pernambuco. A mais antiga é criada na Ilha de Itamaracá, em 1630. Depois são fundadas irmandades em Olinda (1662-1670), Recife (século 17), Igarassu (anterior a 1695) e Goiana (anterior a 1703).
“Engenhos mais ricos mantinham irmandade para seus escravos”, acrescenta Fernando Ponce de León. Ele cita como exemplo a associação fundada em 1743 no Engenho Novo, em Goiana, município da Região Metropolitana do Recife, de propriedade da família de André Vidal de Negreiros, um dos heróis da Insurreição Pernambucana, nome dado às lutas que resultaram na expulsão dos holandeses do Nordeste brasileiro no século 17.
Livros
Também são formadas irmandades em Paudalho (1778), Itambé (anterior a 1806) e Nazaré da Mata (1833-1854), no interior do Estado. O culto a Nossa Senhora do Rosário dos Pretos em Pernambuco já existia no século 16, diz Fernando Ponce, citando o livro Artes e Ofícios dos Jesuítas no Brasil, do padre Serafim Leite (1890-1969), que traz uma carta do padre Antônio Pires, da Companhia de Jesus, escrita em 5 de junho de 1552.
“Há nesta capitania de Pernambuco grande escravaria, assim de Guiné (africanos) como da terra (indígena). Tem uma confraria do Rosario. Digo-lhe missa todos os domingos e festas”, escreve padre Antônio Pires, um dos fundadores do Colégio dos Jesuítas em Olinda. Serafim Leite aborda o assunto na publicação Suma Histórica da Companhia de Jesus no Brasil, informa o museólogo.
“A festa dos Reis Magos da escravaria índia do Rio de Janeiro assumiu extraordinária proporções, enquanto a não suplantou a escravaria africana com as suas confrarias de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, a quem os jesuítas prestavam relevantes serviços”, relata o padre. A Irmandade do Rosário dos Pretos do Recife foi extinta em 2015. As associações ofereciam aos integrantes benefícios espirituais e materiais.