O assalto com agressão física a uma idosa no Conjunto Residencial Jardim do Forte, em San Martin, Zona Oeste do Recife, em 2017, tirou de casa os moradores da vila, localizada por trás da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf). Eles marcaram uma reunião para discutir a falta de segurança na área, levantaram os problemas, identificaram de que forma poderiam colaborar e resolveram reocupar as ruas para inibir a violência.
Desde o fim de 2017 as famílias residentes no conjunto residencial começaram a pensar e a executar ações coletivas para resgatar a convivência entre vizinhos, perdida com o passar dos anos. A primeira ação foi limpar as quatro praças existentes na vila e usar os espaços com atividades variadas. “Fizemos um bingo para arrecadar recursos e promovemos uma festa de Natal, com missa e mesa coletiva de comidas da época”, diz Adriana Souto.
Estudante de biodança e moradora da vila há mais de 20 anos, ela é uma das integrantes do movimento Amorforte, que prevê uma série de atividades para o conjunto residencial, nas ruas, com apoio da prefeitura. Uma das iniciativas, informa Adriana Souto, é a restauração das praças, com a recuperação dos brinquedos infantis e a construção de quadra poliesportiva e de espaço para ginástica.
As propostas, elaboradas por uma arquiteta residente na vila, foram apresentadas à prefeitura em 2018. “Nossa sugestão é que a prefeitura execute a obra de recuperação das praças e os moradores tomem conta depois”, declara. Enquanto isso, a praça principal já vem sendo usada com festas (Natal, São João), feira orgânica e, desde terça-feira (18/09), aulas de ginástica para idosos.
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A feira orgânica é realizada aos sábados – a quarta edição será dia 22/09 – com café da manhã. Cada família leva um produto e compartilha com as demais. “É um momento de convivência e uma oportunidade de um vizinho conhecer o outro”, destaca Adriana Souto. Nessas rodas de conversa os moradores descobriram que muitos deles tinham ideias semelhantes para a vila. Faltava apenas se encontrarem nas ruas.
Viver a rua
“Nossas conquistas estão crescendo, os moradores estavam muito isolados nas suas casas e agora estão mais próximos”, comenta o técnico em nutrição Rinaldo Gomes de Barros, morador da vila há 45 anos. Ele foi cantor da quadrilha matuta de junho e vai organizar o próximo bingo. Comerciária aposentada, Marilene de Barros Maciel participa dos cafés na feira e ontem começou a fazer ginástica na praça.
As aulas são gratuitas, às terças e quintas-feiras, das 15h às 17h. A professora é cedida pela prefeitura, que também providenciou a recuperação da iluminação pública para aumentar a segurança e a limpeza de um canal na vila. “É ótimo esse movimento, apoio tudo e falo o tempo todo em casa sobre os projetos. Moro aqui há 45 anos e no começo as pessoas viviam as ruas, estamos resgatando isso”, diz Marilene de Barros.
Adriana Souto e Dalva de Oliveira, também integrante do Amorforte, acrescentam que o movimento é apartidário e que o grupo, formado por voluntários, pretende trabalhar com as gestões municipais, independentemente de quem esteja no poder. “Precisamos saber nossos direitos e deveres para trabalharmos juntos com a prefeitura”, observa Adriana Souto.
“Se cada bairro tivesse um projeto desse tipo, muita coisa mudaria na cidade, não podemos ser prisioneiros nas nossas casas”, ressalta a esteticista Dalva de Oliveira. “Nossa proposta resgata a alegria de sair de casa e aproveitar os espaços públicos”, destaca Dalva de Oliveira, residente no local há 20 anos.