INSEGURANÇA E ABANDONO

Avenida Beira Rio: gatos se multiplicam e moradores pedem providências

Moradores e comerciantes reclamam da falta de segurança e de fiscalização contra o abandono de gatos, que já são mais de cem

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Publicado em 18/10/2018 às 8:00
Foto: Filipe Jordão/ JC Imagem
Moradores e comerciantes reclamam da falta de segurança e de fiscalização contra o abandono de gatos, que já são mais de cem - FOTO: Foto: Filipe Jordão/ JC Imagem
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A Avenida Beira Rio está entre as vias mais transitadas do Recife. De um lado da rua estão os arranha-céus, do outro, a paisagem dá vez ao Rio Capibaribe. O local é supervalorizado e o metro quadrado dos imóveis pode superar o valor de R$ 7 mil em alguns pontos. Há tempos, a avenida vem ganhando fama de abandonada pela falta de cuidados com seus espaços de lazer. Apesar das denúncias, a praça da Beira Rio, conhecida como Praça dos Gatinhos, e a pista de corrida continuam sofrendo com problemas antigos: falta de infraestrutura, insegurança e abandono de animais.

“A situação está ficando cada vez pior, a Beira Rio está esquecida. O poder público não está fazendo nada para conter a população de gatos, não há banheiro público feminino ou masculino e ainda precisamos lidar com a insegurança. A ponte se tornou ponto para uso de drogas. Aqui, não há guarda municipal, sequer câmeras de segurança. Isso afugenta os visitantes”, diz o vendedor de coco Eraldo da Silva, que trabalha há 13 anos na área.

Abandonados

Atualmente, cerca de 100 gatos vivem no local. A maioria deles é vítima de abandono. Os animais estão por todos os lados e, apesar de não apresentarem agressividade, dividem a opinião de quem frequenta o local. O programador Breno Diniz, 41 anos, costuma se exercitar na pista de corrida Beira Rio com a família. Para ele, é preciso tomar medidas para conter e realocar os bichos. “Acho que depois de certa quantidade, os animais começam a interferir na qualidade de vida de quem usa o lugar. Isso não me incomoda, mas é preciso levar os gatos para um lugar mais adequado”, comenta.

A advogada e estudante de medicina veterinária Fernanda Aguiar, ajuda na limpeza e cuidado dos gatos da Beira Rio. Ela faz parte da ONG Gatinhos Urbanos e usa a internet para denunciar a situação e procurar lares para os gatos abandonados. “Nós limpamos a área, alimentamos os gatos, damos remédio, chamamos veterinários, levamos para a castração. Tudo isso por nossa conta. Já entramos com ações contra a Prefeitura do Recife no Ministério Público, mas nada foi feito”, conta Fernanda.

Segundo ela, sobram reclamações, no entanto, pouco é feito pela população para sanar a situação. “Nós fazemos um trabalho de contenção, não temos como controlar o abandono dos animais. As pessoas param os carros e jogam os gatos pela janela. Ninguém denuncia. É preciso que haja fiscalização para coibir e punir quem faz isso”, acrescenta. A ONG vive de doações para arcar com o custo de rações, remédios e castrações.

Em contrapartida ao abandono, há quem vá ao local buscar um novo animalzinho de estimação. A babá Marli Maria dos Santos, 39 anos, estava procurando um gato para adotar. Na internet, descobriu sobre a adoção dos felinos da Beira Rio e foi até lá escolher um. “É uma pena ver tantos animais abandonados. Eles não têm culpa, não vejo problema em ficarem por aqui. O problema se resolveria se as pessoas se conscientizem em não abandonar e mais gente adotasse”. Ela e o filho Cristian Lira, 11 anos, escolheram um filhote para levar para casa.

Medo de doenças

Ainda que os gatos sejam cuidados pela ONG, a população pede que o poder público tome medidas para que os felinos sejam encaminhados para centros de doações e saiam das ruas. Alguns alegam temer a transmissão de doenças. “Já ví alguns gatos com ratos na boca. O ambiente é compartilhado com pessoas e até crianças. Acho perigoso”, comenta o engenheiro Rodrigo Bezerra, que mora no bairro e frequenta a área de lazer da avenida.

A médica veterinária e professora universitária Vanessa Lima alerta para os possíveis doenças e problemas que podem surgir com o aumento da população de gatos na via. “Animais soltos na rua, de maneira geral, podem ser transmissores de algumas doenças. Os maiores riscos envolvem raiva, esporotricose e toxoplasmose. Além disso, o crescimento dessa população de animais aumenta os riscos de acidentes envolvendo pessoas, carros e até entre eles mesmos. Isso não se restringe aos gatos, podem ser outros animais. Eles devem ficar em lares, não abandonados nas ruas”, pontua.

Resposta

Em nota, a Prefeitura do Recife informa realizar o acompanhamento da situação dos gatos da Avenida Beira Rio e atuar para o controle da natalidade. “Toda terça-feira, a Secretaria Executiva dos Direitos dos Animais (Seda), em parceria com o Centro de Vigilância Ambiental (CVA) da Secretaria de Saúde do Recife, castra gatos da Beira Rio”. O órgão ainda afirma enviar equipes de fiscalização ao local sempre que recebe denúncias de maus tratos aos animais. A prefeitura, no entanto, não comentou sobre a possibilidade de retirada dos animais da via. 

Procurado, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) esclarece por meio de nota que já gerou recomendações para a Prefeitura do Recife. Entre elas estão melhorias na iluminação, criação de posto para guarda municipal e Polícia Militar (PM), poda das árvores, instalação de câmeras de segurança, advertências para coibir o abandono e maus-tratos de animais e abertura de inquéritos policiais pelo crime de abandono. Caso a administração municipal não cumpra as recomendações, o MPPE "ingressará com ação civil pública visando obrigá-la a tomar providencias".

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