Duas agremiações queridas pelos foliões pernambucanos celebram aniversário, neste domingo, com festa pelo Sítio Histórico de Olinda, no Grande Recife. Quase centenária, a Troça Carnavalesca Mista Cariri Olindense vibra com 98 anos de folia, enquanto a Pitombeira dos Quatro Cantos chega aos 72 anos de fundação. Estandartes e orquestras tomarão as estreitas ruas da Cidade Alta no final da tarde. Mais cedo, de manhã, o quarentão Bloco Eu Acho é Pouco deve colorir a Cidade Patrimônio de vermelho e amarelo num ensaio aberto para afinar músicos e batucada antes do início oficial do Reinado do Momo, em 2 de março.
“O Carnaval deste ano será o pontapé para as comemorações dos 100 anos de Cariri, em 2020. Estamos programando três anos de festa, começando agora e acabando só em 2021”, conta o tesoureiro Romildo Canuto Filho, 59 anos, neto do funileiro Augusto Canuto, um dos fundadores da troça. Hoje, a farra será comandada pela Orquestra Henrique Dias. Durante o Carnaval, a responsabilidade é do maestro Oséas.
A troça é conhecida por abrir oficialmente a folia olindense. Por isso, é preciso fôlego e disposição para acompanhá-la: sai na madrugada do domingo, ao raiar do dia, por volta das 4h, da sede, localizada ao lado da Igreja do Guadalupe. “Nosso símbolo é uma chave porque meu avô e os amigos que criaram Cariri diziam que ia abrir o Carnaval”, relata Romildo.
O Homem da Meia Noite desfila mais cedo e vai, todos os anos, cumprimentar os foliões do Cariri, antes da saída da sede do Guadalupe. “Tem gente que diz que o Homem da Meia Noite é que abre o Carnaval, mas na verdade somos nós do Cariri”, assegura Romildo. O calunga verde e preto foi criado 11 anos depois de Cariri, em 1932, após uma dissidência dos fundadores da troça.
Aos 93 anos, o sapateiro Pedro do Ó foi o primeiro porta-estandarte do Cariri. Somente cinco anos mais velho que a agremiação, ele passou a tarefa, depois de mais de anos, para João Fausto, 84 anos, que será um dos homenageados deste ano. “Em 1958 (o bloco é de 1921) decidimos criar um estandarte, que foi feito de lona”, relembra Pedro, que faz questão de espiar estandarte e orquestra quando passam pela Rua do Guadalupe.
“Tomara que a gente se encontre, neste domingo, com Pitombeira. Será uma alegria pra gente”, diz Romildo. O cortejo sai às 17h da Rua Cândida Luiza (onde fica a sede), segue pela Vital Vergueiro, Rua do Guadalupe e Amparo até chegar nos Quatro Cantos. Depois volta pelo mesmo caminho da ida. O tesoureiro estima que a orquestra estará nos Quatro Cantos por volta das 19h, quando, se der sorte, chegará também a Pitombeira.
TRADIÇÃO
A farra na sede da Pitombeira, no bairro do Carmo, vai começar ao meio-dia. Haja frevo e bate-bate para segurar os foliões até 17h, quando está previsto o início do cortejo. ““Tenho certeza de que nesse domingo será uma festa linda, cheia de frevo e com muita energia positiva. No Carnaval, pedimos aos foliões jovens e os da velha guarda também que se puderem, venham fantasiados de presidiários, que foi uma roupa que ficou marcada, em 1952. Todo mundo que via o grupo dizia ‘lá vai o pessoal da Pitombeira’”, relembra O presidente Hermes Cristo Neto, 40.
A brincadeira começou em 17 de fevereiro de 1947, nos Quatro Cantos, com um grupo de amigos que fazia uma farra embaixo de um pé de pitomba. Durante o Reinado de Momo a troça sairá duas vezes, na segunda e na terça-feira, às 9h.
O médico paraibano Lupicínio Farias Torres, 65, estará hoje na Rua 27 de janeiro. Sua história com o bloco olindense começou mais de 10 anos atrás, quando ele vinha ao Recife visitar a filha, então residente de medicina.
“Foi quando conheci Carnaval de verdade e desde então sempre brinco em Recife ou Olinda. A partir de setembro venho todos os domingos para aproveitar as prévias”, afirma Lupicínio, que mora em João Pessoa. Ele também acompanha os Blocos da Saudade e o Marinheiro Duchanha.
DRAGÃO
Para os foliões dispostos a brincar a prévia cedinho, hoje, a partir das 9h, o destino deve ser a Rua de São Bento. Pertinho do Mercado da Ribeira fica a sede do Eu Acho é Pouco, de onde vai partir o cortejo tendo o tradicional dragão, símbolo da agremiação, como condutor da farra. O ponto final será a Praça do Carmo. E para aplacar o calor, a folia vai acabar molhada.
“Traga seu corpo com suas regras, sua tanga, asa delta ou suquini, porque vai ter o tradicional banho de mangueira pra gente trocar energia. A ladeira é nossa e o amor é livre”, avisam os organizadores do bloco.