Bailarina desde os 4 anos, Amanda Lima, 21 anos, levanta a bandeira da inclusão no Carnaval deste ano. A jovem tem síndrome de Down, é a primeira bailarina de ponta do Norte-Nordeste com a patologia, e serve de inspiração para muitas pessoas. Na próxima sexta (1º de março), sua delicadeza irradiará de cima do palco do Marco Zero, durante a abertura oficial do Carnaval do Recife, o amor que ela tem pela dança.
Será a primeira vez que Amanda subirá no palco do Marco Zero para se apresentar solo. Ela já dançou no período carnavalesco mas em outras ocasiões. No ano passado, se apresentou ao lado de Elba Ramalho e Nena Queiroga também no palco do Marco Zero, e ainda dançou ao lado de Preta Gil no Bal Masqué do mesmo ano. De acordo com a estimativa da mãe da jovem, Ana Paula Lima, 45, já foram mais de 200 apresentações desde que Amanda começou a ser bailarina. “Na primeira apresentação eu lembro como se fosse hoje, com seis anos de idade, ela se apresentou com três coleguinhas sem patologias e se destacou. Todos aplaudiram de pé e eu percebi na hora o quanto aquilo a fazia feliz”, lembrou a mãe.
Com uma fala carinhosa e a postura de uma bailarina profissional, Amanda declara com firmeza que será no futuro uma professora de ballet. “Eu amo dançar. A dança para mim é tudo. O ballett é minha vida, e por isso tudo que faço tem dança”, falou. A cada apresentação a jovem que já participou duas vezes do Festival de Dança do Ballet de Bolshoi, em Joinville, se enche de aplausos e incentivos para continuar a dançar. “Eu gosto dos aplausos, sinto muita emoção na hora. Isso me dá vontade de continuar dançando e ser cada vez melhor no que eu faço”, avaliou a jovem que tem como marca registrada agradecer mandando um coraçãozinho com a mão para a platéia.
Tudo começou quando mãe dela procurou a professora de dança Jeane Barbosa, 54, a fim de desde cedo trabalhar a postura e arte da filha. Amanda foi a primeira aluna da turma de dança de Jeane com deficiência, mas sua desenvoltura e sucesso nos palcos fez com que outros aderissem às aulas. Hoje a Formação de Ballet Jeane Barbosa já conta com cinco alunos com down, um autista e uma cadeirante. “Depois que comecei a ver esse mundo passei a ver que faltam escolas inclusivas. A maioria não quer ou cobra mais caro para incluí-los nas turmas.”
Segundo a professora, a entrada de Amanda em sua vida modificou toda sua visão de pessoas com patologias. “Foi muito enriquecedor na minha vida como pessoa e professora. Por causa dela fiz novos cursos e descobri que não tem fórmula para dar aula a pessoas especiais, é só fazer com calma e respeitar o tempo de aprendizado de cada um. Muitos subestimam muito a capacidade deles”, avaliou destacando que dá a mesma aula para todos os alunos, independente da condição.
TODOS OS RITMOS
Além do ballet clássico, Amanda dança qualquer ritmo na ponta da sapatilha. Estudante do 9º ano, a jovem também tem como hobby escutar jazz nas horas vagas, e sair com o namorado que está há dois anos. Para a mãe, o ballet desenvolveu habilidades que a tornam diariamente uma jovem brilhante nas coisas que faz. “A autonomia dela aumentou, e foi o ballet que mudou o comportamento dela. Hoje está mais centralizada e é bem independente. Só não é mais porque fico no pé dela”, brincou.