Carnaval 2019

Maracatu Porto Rico: uma história que atravessa gerações

Acompanhe a partir deste domingo (24), no JC, série de reportagens com herdeiros do Carnaval pernambucano. As matérias serão publicadas até a próxima quinta-feira (28), começando pelo Maracatu Nação Porto Rico, com sede no bairro do Pina, na Zona Sul do Recife

Cleide Alves
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Cleide Alves
Publicado em 24/02/2019 às 8:08
Foto: Brenda Alcântara/JC Imagem
Acompanhe a partir deste domingo (24), no JC, série de reportagens com herdeiros do Carnaval pernambucano. As matérias serão publicadas até a próxima quinta-feira (28), começando pelo Maracatu Nação Porto Rico, com sede no bairro do Pina, na Zona Sul do Recife - FOTO: Foto: Brenda Alcântara/JC Imagem
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Fundado no fim do século 19 em Palmares, município da Zona da Mata Sul de Pernambuco, o Maracatu Porto Rico migrou para o Recife em 1916 e a partir dessa data passou a fazer parte oficialmente do Carnaval da cidade. Com 103 anos de história na capital, o Porto Rico tem como presidente a ialorixá Elda Viana de Oxóssi, a última rainha de maracatu coroada em cerimônia numa igreja católica.

Desde a coroação de dona Elda em outubro de 1980, na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no bairro de Santo Antônio, Centro do Recife, o Maracatu Nação Porto Rico perdeu o campeonato do Carnaval apenas cinco vezes e empatou outras duas. “Minha mãe foi coroada numa cerimônia religiosa conduzida pelo padre Miguel Cavalcanti e saiu da igreja de mãos dadas com ele, seguindo o ritual”, diz Chacon Viana.

Ele tinha 11 anos quando a mãe recebeu o título de rainha do Maracatu Porto Rico e já participava do cortejo carnavalesco há seis anos. “Desfilo desde criança, comecei aos 5 anos com uma fantasia de índio. Também fui porta-abajur e depois entrei no grupo dos batuqueiros”, declara Chacon Viana, 50. Mestre do maracatu desde 2000, é ele quem cuida do batuque da Nação Porto Rico.

“Sou um servo como todos, quem manda em tudo é a rainha e o rei”, declara mestre Chacon. O Maracatu Porto Rico, formado por 800 pessoas (200 batuqueiros, quatro damas-do-paço que carregam as calungas, figurinos, rei e rainha) está sediado no Pina, bairro da Zona Sul do Recife, desde 1968, quando Eudes Chagas assumiu o grupo. Avô de santo de dona Elda, ele reinou por dez anos até falecer, em 1979.

Hoje com 81 anos e vivendo com doença de Parkinson, a rainha e matriarca Elda de Oxóssi preparou os filhos para cuidar da parte espiritual do maracatu. “Estamos preparados espiritualmente, socialmente e administrativamente, minha mãe nos orientou muito bem, o legado dela será levado adiante. Sou babalorixá na Casa Ilê Axé Oxóssi Guangoubira e minha irmã, Edleusa Viana, é princesa no maracatu e ialorixá.”

Gerações

“Para herdar e levar à frente um maracatu é preciso viver essa história e ter carinho por ela”, destaca mestre Chacon, percussionista que aprendeu a tocar os instrumentos sem professores desde pequeno. Ele começou com o elu, no terreiro; depois passou para o tambor, no maracatu. “A gente vai olhando e vai resolvendo. Meus filhos aprenderam brincando comigo. João tem 9 anos e é mestre do batuque mirim do Maracatu Porto Rico. Jaysse tem 7 anos e toca agbê”, diz Chacon.

A família está pronta para dar continuidade ao trabalho realizado por dona Elda. “Meu irmão, Jailton Viana, e meu sobrinho Douglas Viana são batuqueiros no maracatu. Minha esposa, Joana Cavalcanti, coordena o grupo de meninas do agbê. É uma tarefa difícil, elas precisam cantar, tocar e encantar durante o desfile”, declara. E o mestre Chacon se encarrega de levar o nome do Maracatu Porto Rico para o Brasil e o exterior.

“Faço viagens em vários Estados brasileiros e em 2018 estive no Japão, no Festival Sukiyaki, que reúne percussionistas de todo o mundo na cidade de Nanto. Sou o quinto brasileiro e o segundo pernambucano a participar do festival, o primeiro foi Naná Vasconcelos (1944-2016)”, comenta. Em 2019, Chacon participará do Festival dos Continentes, em Paris, no mês de julho, e do Festival Sukiyaki, em agosto.

Em 2018, ele ajudou a fundar a Confederação Japonesa de Maracatu, composta de oito grupos, e é responsável pela área musical da entidade. O desfile oficial do Maracatu Porto Rico será no Domingo de Carnaval (03/03), à noite, na Avenida Nossa Senhora do Carmo, no Centro do Recife. “Nós encerramos o desfile desse dia”, avisa Chacon, historiador de formação e batuqueiro por amor.

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