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Livro resgata patrimônio dos bairros de Santo Antônio e São José

'Dois Bairros Irmãos – O Patrimônio Imaterial dos Bairros de Santo Antônio e São José' faz um inventário das localidades

Cleide Alves
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Cleide Alves
Publicado em 08/06/2019 às 8:08
Foto: Guga Matos/Acervo JC Imagem
'Dois Bairros Irmãos – O Patrimônio Imaterial dos Bairros de Santo Antônio e São José' faz um inventário das localidades - FOTO: Foto: Guga Matos/Acervo JC Imagem
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Juntos, eles ocupam 407 hectares e abrigam 8.973 habitantes em 2.846 domicílios, de acordo com o último Censo do IBGE. Os dados, possivelmente, estão defasados, levando-se em consideração que a contagem é de 2010. Porém, os bairros de Santo Antônio e de São José, no Centro do Recife, têm muito mais do que números para compartilhar com os moradores da cidade. São lugares com memória afetiva impregnada em becos, calçadas, pátios e igrejas, histórias reunidas num livro que foi lançado nesse sábado (08) na sede da Academia Pernambucana de Letras, no bairro das Graças.

A publicação batizada Dois Bairros Irmãos – O Patrimônio Imaterial dos Bairros de Santo Antônio e São José, no Recife começou a ser gestada em 2013, a partir de uma pesquisa financiada pelo Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura). O trabalho resultou no inventário do comércio popular e especializado, da culinária e comedorias, das irmandades e festas religiosas, da literatura de cordel, da arquitetura, dos cinemas e teatros, dos hotéis, dos restaurantes e cafés, da atividade pesqueira, das pontes e das praças, entre outras heranças culturais.

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Com 302 páginas, ilustradas com fotografias, cartões-postais e mapas, o livro traz a história da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, criada em 1654 e que reunia africanos de todas as nações residentes no Recife, em especial de Angola e da Costa da Mina, além dos negros nascidos no Brasil. Também apresenta o acarajé pernambucano, apenas coroado com uma piaba ou camarão miúdo, como aquele que mais se assemelha ao bolinho de massa de feijão consumido pela população escrava em todo o Nordeste brasileiro nos séculos passados.

“O objetivo do levantamento, que resultou no livro, é lutar contra o esquecimento e a perda de memória, é preciso resgatar a importância dos dois bairros”, declara o coordenador do projeto, Jacques Ribemboim. Ele participou do inventário com os pesquisadores Osman Godoy, Ana Pereira, Lorena Veloso, Nicole Costa e Conceição Fragoso. A publicação, diz Jacques Ribemboim, pode servir de subsídio para o registro oficial de algumas dessas heranças com patrimônio pernambucano ou brasileiro.

Bens culturais

Dois Bairros Irmãos – O Patrimônio Imaterial dos Bairros de Santo Antônio e São José, no Recife está dividido quatro capítulos – Saberes (livro do conhecimento), Celebrações (livro das louvações), Formas de expressão (livro dos Meios de Expressão) e Lugares (livro dos ambientes culturais). Segue as divisões do livro de registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial (BCNI) regulamentado pelo Decreto Federal nº 3551/2000, informa.

“As vezes, um bem material requer imaterialidade e o bem imaterial precisa do requisito material para continuar existindo”, comenta Jacques Ribemboim, ao justificar a inclusão de edificações como igrejas, praças e pontes na publicação. O livro, da Editora Babecco, abre espaço para o comércio de peixes ornamentais instalado desde a década de 1960 próximo ao Rio Capibaribe, entre a Praça Joaquim Nabuco e a Casa da Cultura. “Gerações de recifenses compraram seus peixinhos de aquário nesse lugar.”

No passeio pelos bairros os pesquisadores registraram atividades, prédios e ruas que sucumbiram às mudanças ocorridas na cidade. “O burburinho da imprensa e a militância de advogados se esgotaram”, diz ele. O livro traz uma lista de 41 jornais sediados ou com tipografia em Santo Antônio e São José no século 19. E enumera hotéis desativados e que um dia receberam hóspedes famosos como a atriz Rita Hayworth, o filósofo Jean-Paul Sartre e o cantor Vicente Celestino. O livro custa R$ 50.

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