O marceneiro que construiu uma área de lazer de uso comunitário às margens do Rio Capibaribe na Vila Santa Luzia, bairro da Torre, na Zona Oeste do Recife, foi notificado pela prefeitura e recebeu prazo de 30 dias para justificar a obra, considerada irregular. “Tenho até o próximo dia 17 (de junho) para apresentar minha defesa”, informa Claudemir Amaro da Silva, ao mostrar o documento emitido pela Secretaria de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente.
Além da defesa por escrito, ele vai entregar à prefeitura um abaixo-assinado contra a possível demolição da pracinha. O documento foi elaborado por moradores da Vila Santa Luzia que frequentam a RioTeca, como o local é denominado. “Se tirarem esse espaço da gente, estarão tirando tudo o que a comunidade tem para o lazer. Crianças e adultos usam a área sem fazer bagunça, não podemos perder isso”, declara Romário José dos Santos, residente na vila há 35 anos.
De acordo com Romário José e Claudemir Amaro, ao meio-dia, com o sol forte, o lugar funciona como refúgio para entregadores de água e gás e outros trabalhadores em busca de áreas sombreadas para um momento de descanso. “Se a ideia é tirar a área de lazer e não reocupar a margem do Rio Capibaribe com outra coisa, as palafitas voltarão”, observa o marceneiro.
A RioTeca começou a ser implantada 12 anos atrás, quando a prefeitura removeu a comunidade Abençoada por Deus das margens do Rio Capibaribe. Para evitar o retorno das palafitas, Claudemir Amaro abriu uma biblioteca comunitária na área ribeirinha. Com o passar do tempo, acrescentou brinquedos infantis, mesas e cadeiras que ele mesmo reforma.
No fim de 2018, a pracinha ganhou uma horta comunitária, implantada com apoio do Coletivo Massapê, formado por arquitetos e estudantes de arquitetura da Universidade Federal de Pernambuco. “Sou eu e Deus sozinho para manter esse espaço, é difícil, mas enquanto tiver saúde e força vou continuar com esse trabalho”, afirma Claudemir Amaro.
A comunidade utiliza a RioTeca para festas e confraternizações, gratuitamente. “A única coisa que peço é para devolverem o lugar limpo do jeito que receberam”, diz o marceneiro.
NOTA
Procurada para falar sobre o assunto, a Secretaria de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente enviou uma nota para explicar que fiscais vistoriaram as margens do Rio Capibaribe da Vila Santa Luzia após receber denúncias. Durante a inspeção, o município emitiu auto de infração para seis moradias às margens do rio, na Rua Eliezer Olímpio de Moura. Nessa ocasião, segundo o texto da nota, a equipe constatou “a presença de uma área de lazer” na comunidade.
“Todos os responsáveis foram autuados para poderem prestar os devidos esclarecimentos à gestão municipal no prazo de 30 dias, ainda vigente”, informa a secretaria. Na mesma nota, a prefeitura avisa que vai “acionar a Secretaria Executiva de Inovação Urbana (do Recife) para conhecer melhor o projeto, uma vez que a pasta possui expertise e parcerias com iniciativas similares levadas a cabo pela população.” E acrescenta que “a legislação prevê atenuantes para áreas de uso coletivo e com replantio de espécimes da flora local.”