“Pode acontecer com o filho ou a filha de qualquer pessoa. Não vamos deixar o mal vencer”. As palavras do pai da adolescente assassinada em Maria Farinha expressavam ontem mais do que dor. Era um apelo. Um alerta. “As redes sociais abrem portas para o céu e para o inferno. Precisamos estar atentos.”
JORNAL DO COMMERCIO – Como o senhor ficou sabendo da morte de Raíssa?
PAI - Estava indo para minha casa. Quando cheguei em uma lanchonete, fui comer alguma coisa, as pessoas estavam compartilhando o vídeo. Só se falava nisso, em duas meninas que tinham matado outra na praia de Maria Farinha. Eu falei ‘cadê, deixa eu ver?’. Eu não vi o rosto, mas vi o perfil. Já me deu um calafrio. Aí eu fiz, ‘ei, cara, mostra o rosto’. Foi quando eu percebi. Pedi para adiantar a imagem, porque falei que podia ser a minha filha. Todo mundo parou, olhou. Aceleraram o vídeo. Quando eu vi, tive um choque. Era minha filha apanhando, sendo surrada. Que fique bem claro. Tudo isso que aconteceu foi premeditado.
JC – O senhor era contra o relacionamento?
PAI - Sim. Mas não porque ela era uma menina. Porque se fosse uma menina de bem, não teria problema nenhum. Era o comportamento dela que era complicado. As duas tinham personalidades completamente diferentes. Minha filha era uma pessoa inteligente, educada. Porém ainda não estava preparada para a maldade do mundo. Foi disso que a outra se aproveitou. Porque já tinha um histórico de vivência na rua, de uso de drogas. Minha filha passou a se desviar do caminho dela depois que conheceu essa garota. Desde o início da relação das duas que as coisas foram conturbadas. Tentamos interromper muitas vezes esse relacionamento, mas a acusada é cínica, astuciosa, ela não permitia esse afastamento.
RECOMEÇO
JC - Com o fim do relacionamento, Raíssa se reaproximou da família?
PAI - Sim. Ela começou a perceber o quanto o relacionamento era ruim, não estava fazendo bem a ela. Ela queria largar a acusada, voltou a estudar, foi morar na casa da mãe, conheceu um garoto bom, sem envolvimento com coisas erradas. Porém a outra continuava insistindo, ameaçando. Foi aí que veio a parte psicopata da agressora.
JC - Vocês tinham conhecimento dessas ameaças?
PAI - Ela não falava. Essa agressão psicológica e física aconteciam, mas o medo e a inocência da minha filha eram tão grandes, que ela guardava tudo isso para ela. Conselhos da mãe e do pai não faltaram. Existe uma coisa que os pais, os adolescentes não percebem, mas as redes sociais, a internet abrem muitas portas para o céu e para o inferno. Então a gente precisa ficar atento. Todos os pais. Porque aconteceu com a minha filha. Mas pode acontecer com a filha de qualquer um. Não vamos deixar o mal vencer. Eu ainda não desabei. Estou tentando ficar forte. Mas estou destruído por dentro. Foi uma atrocidade humana o que elas fizeram.