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Vaquinha para documentário sobre mulheres LBT acaba nesta sexta

Documentário retrata a corrida de mais de 20 mulheres para a retificação de nome e o casamento homoafetivo após o resultado das eleições de 2018

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Publicado em 11/07/2019 às 18:52
Foto: Filipe Jordão/ JC Imagem
Documentário retrata a corrida de mais de 20 mulheres para a retificação de nome e o casamento homoafetivo após o resultado das eleições de 2018 - FOTO: Foto: Filipe Jordão/ JC Imagem
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Vai até esta sexta-feira (12) a arrecadação de verba para a finalização do filme Antes Que Ele Chegue, que conta a corrida de mais de 20 mulheres pela garantia de seus direitos após as eleições presidenciais de 2018. Dirigido pela cineasta pernambucana Clara Angélica, o documentário já foi todo gravado, mas falta financiamento para a etapa de edição e finalização. 

Uma vaquinha online está arrecadando recursos para que a produção passe pelos ajustes necessários e seja lançada ainda este ano. Da meta de R$ 53 mil, até agora faltam ser arrecadados cerca de R$ 3 mil. Caso o valor não seja alcançado até esta sexta, todo o dinheiro ganho será devolvido para os investidores.

Além do link online (www.benfeitoria.com/antesqueelechegue), doações também podem ser feitas por depósito bancário. (Banco do Brasil, AG: 1509-1, CC: 50196-4, CNPJ: 06.169.280/0001-42, favorecido: Opara Produções Audiovisuais (Opara Filmes).

Histórias 

Benedita de Araújo Subrinho tem 22 anos e é estudante de Educação Física pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Em janeiro deste ano, em um cartório de Caruaru, no interior do Estado, ela, mulher travesti, conseguiu retificar nome e sexo na certidão de nascimento. A partir de então, em seus documentos estaria o nome que escolhera. Benedita. Tão forte quanto a dona, que desde cedo precisa resistir todos os dias para garantir a si mesma um dos direitos mais básicos da pessoa humana: o de estar viva.

O processo de retificação do nome de Benedita está sendo contado no documentário Antes Que Ele Chegue, dirigido e produzido pela cineasta pernambucana Clara Angélica. Além dela, outras 20 mulheres lésbicas, bissexuais, transsexuais e travestis (LBT), que iniciaram uma verdadeira corrida por seus direitos após o resultado das eleições presidenciais de 2018, contam suas histórias e documentam como é a vida de mulheres LBTs no País que mais mata pessoas LGBTQ+ no mundo. Pensado para estrear no segundo semestre deste ano, o filme depende agora de doações para ser finalizado.

O preconceito sempre esteve presente na vida de Benedita, inclusive dentro da própria casa. Mas, isso não a impediu de correr atrás dos seus objetivos e ocupar os espaços que eram seus por direito. O processo de retificação não foi fácil e nem sempre as instituições responsáveis sabiam lidar com a demanda, mas, no final, além de ser reconhecida civilmente como quem, de fato, é, passou a ser respeitada por parte da família. “Durante o processo de retificação eu retomei o contato com a minha família. Eu precisava contar e explicar a eles. Não foi fácil, meus pais não me aceitam, mas fiquei feliz de ver que meus avós foram mais abertos. Todo o processo do filme ajudou também a mostrar a importância disso para eles. Hoje meu avô me reconhece e me chama no feminino”, conta a estudante, que vê o trâmite também como uma seguridade. “Não é só um nome em um documento. As situações constrangedoras sempre vão existir e isso não impede a violência, mas agora tenho documentos e ninguém pode questionar quem sou”.. Para elas, a palavra de ordem é resistência.

As designers Aline Tavares, 30, e Claydja Cabral, 29, casaram-se em dezembro e também são personagens do documentário. A relação já era antiga. Estão juntas há quatro anos. Mas, o medo que as políticas públicas voltadas às pessoas LBGTQ+ mudassem fez com que as duas adiantassem os trâmites do casamento. Apesar do receio pelo momento político em que o País se encontra, falar sobre a relação e sobre o processo foi fortalecedor para o casal. “É muito importante ouvir e partilhar essas histórias de resistência. A gente se sente muito fortalecida.

Em alguns momentos o sentimento de solidão era muito forte, mas o filme fez a gente perceber que não estamos sozinhas”, observa Aline. “Com medo da violência/ sabendo do preconceito/ dá um gosto de esperança/ quando alguém bate no peito/ e serve de referência/ pra quem ainda anda sem jeito/ de dizer quem é que manda/ no gostar de cada um”. A poesia é de Olga Pinheiro, uma das personagens do documentário. Na produção, a engenheira química e desenvolvedora web recita esta poesia que fala justamente do que acha mais importante no filme. A representatividade. “Eu lembro que, na minha adolescência, não via mulheres lésbicas retratadas como pessoas normais, sem rótulos ou tabus. A partir do momento que eu me assumi lésbica, tudo na minha vida passou a funcionar melhor. Mas, é difícil criar consciência de quem se é sem as referências. Nosso filme fala sobre histórias de realização, de mulheres de diferentes raças e classes falando sobre o amor e sobre estarem vivendo apesar do caos. Isso é muito significativo”, pontua. “Apesar do medo, o que retratamos é a luta e a resistência. Nossa narrativa tem a intenção de oferecer vida e isso pode servir de exemplo para pessoas daqui pra frente”, acrescenta a diretora do longa-metragem, Clara Angélica.

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