A plataforma digital Fogo Cruzado, que mapeia há pouco mais de um ano tiroteios e disparos de arma de fogo na Região Metropolitana do Recife (RMR), passou a ser operada em Pernambuco em parceria com o Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop), entidade social de defesa dos Direitos Humanos com ênfase na justiça e segurança. Após levantamento do primeiro semestre de 2019, o laboratório de dados divulgou números alarmantes, apesar da redução, divulgada anteontem pela Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS-PE), no índice de homicídios registrados no Estado nos seis primeiros meses deste ano.
De janeiro a junho, a RMR registrou 715 tiroteios, que deixaram 505 pessoas mortas e 254 feridas. Em um ano de atuação do Fogo Cruzado no Estado, foram registrados, com a colaboração da população e da imprensa, 1500 tiroteios/disparos. Segundo o levantamento, o Grande Recife registra uma média de quatro situações envolvendo armas de fogo por dia.
Além de notificar em tempo real as ocorrências, a plataforma cria uma base de dados, que podem ser utilizados pela população e pelas instituições para a adoção e cobrança de políticas públicas de promoção da segurança. Segundo Edna Jatobá, coordenadora do Gajop e gestora local do Fogo Cruzado, o monitoramento proporciona um olhar mais apurado para a população. “Não queremos apenas fazer levantamento de quem está morrendo. A gente vive uma situação em que as pessoas não conseguem se locomover, as crianças não podem brincar nas ruas, faz medo ir ao posto de saúde, por exemplo… Não é só uma forma de pedir pela diminuição da violência, queremos garantir o direito de ir e vir das pessoas. Não é só olhar para o fim daquele bala, mas mostrar que a violência armada impede as pessoas de terem seus direitos garantidos”, explica. De todos os casos registrados no primeiro semestre, em apenas 10% não houve vítima.
A estudante e jornalista Roseane Gomes, mora no Ibura, na Zona Sul do Recife, o segundo com maior número de tiroteios na primeira metade de 2019. Foram 16. Vivendo no bairro desde criança, ela sente o quanto a violência influencia em seu dia a dia. "Eu vejo muita gente, e eu me incluo nisso, tendo que ajustar a rotina porque não pode andar livremente pelo bairro. Eu, inclusive, deixo de sair e quando saio, procuro sempre chegar acompanhada. Como eu moro em um local que preciso descer em uma Avenida para ir andando para casa, sempre recorro a caronas ou transporte de aplicativo para me sentir segura", conta. Quem antecede o Ibura é o bairro de Santo Aleixo (17) em Jaboatão dos Guararapes. Em terceiro e quarto lugar aparecem Várzea (14) e Prazeres (14) e em quinto e sexto, Boa Viagem (12) e o Centro de Igarassu (12).
Para a idealizadora da plataforma, a jornalista Cecília Olliveira, a captação destes dados em Pernambuco é de extrema importância em meio a um cenário preocupante. “Como ele só passou a funcionar há pouco mais de um ano, não temos um comparativo com o mesmo período do ano anterior, mas o que a gente observa é que a violência armada está presente na RMR de uma forma forte, inclusive nos estabelecimentos penais. A dinâmica de violência é diferente de algumas áreas do Rio, mas quando pegamos a Baixada Fluminense, por exemplo, há similaridade com a RMR por ter um número menor de tiroteios, mas a quantidade de pessoas mortas neles é mais alta”, explica. Segundo ela, esse foi um dos motivos para o programa passar a mapear os tiroteios em Pernambuco.
Fogo Cruzado
O aplicativo do Fogo Cruzado funciona desde 2016 no Rio de Janeiro e está batendo os 300 mil downloads juntando RMR e Região Metropolitana do Rio. As informações podem ser colocadas na plataforma em tempo real, após cadastro. Também é possível visualizar o histórico da localidade e receber notificações das ocorrências.
