História

Colônia Orfanológica Isabel guarda um pedaço da história de Pernambuco

Localizada em Jaqueira, município da Mata Sul, a antiga Colônia Orfanológica Isabel foi transformada no Educandário São Joaquim

Cleide Alves
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Cleide Alves
Publicado em 25/08/2019 às 8:08
Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Localizada em Jaqueira, município da Mata Sul, a antiga Colônia Orfanológica Isabel foi transformada no Educandário São Joaquim - FOTO: Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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O município de Jaqueira ainda não existia quando frades capuchinhos, a pedido do governador Henrique Pereira de Lucena, desembarcaram na Zona da Mata Sul de Pernambuco em 1873, no século 19, para construir uma colônia destinada a meninos órfãos. Emoldurado pela mata e cercado por colinas, o prédio da antiga Colônia Orfanológica Isabel é o mesmo que ainda hoje se avista da PE-26 nas terras localizadas em Jaqueira, emancipado de Maraial em 1995 e distante 152,5 quilômetros do Recife.

Com um hectare de área construída (10 mil metros quadrados) num terreno de 18 hectares, o imóvel de dois pavimentos abriga desde o início do século 20 o Educandário São Joaquim, administrado pela Santa Casa de Misericórdia do Recife. A escola oferece da educação infantil até o 5º ano do ensino fundamental I para crianças de 4 a 11 anos de idade residentes na zona rural e na área urbana de Jaqueira, com bolsa integral para os cem alunos matriculados. A ong alemã ZHB, formada por dentistas, envia recursos para a manutenção do colégio.

A Colônia Orfanológica Isabel para negros, brancos e índios foi instalada no local onde antes funcionava a Colônia Militar de Pimenteiras, afirma o historiador Ricardo Antônio Guerra da Silva, professor da Faculdade de Formação de Professores da Mata Sul. “Esse quartel para alojamento de soldados no período imperial foi criado em 1850 e estava extinto em 1862. A hospedaria seria reaproveitada para as oficinas de padaria, alfaiataria, tipografia, música, carpintaria, solda e vassouraria. Os órfãos entravam aos 7 anos e saíam aos 18 anos com uma profissão”, relata o professor.

Na época dos capuchinhos, segundo ele, a Colônia Isabel era autossuficiente. “Todos os alimentos eram produzidos nela e apenas o sal vinha do litoral”, declara. Ricardo Guerra atribui a alunos do curso de carpintaria a autoria de móveis fabricados para a Capela de Santa Isabel, na entrada do estabelecimento, e para os dormitórios. Cita como exemplos o púlpito (lugar onde os padres faziam a pregação no passado) e dois confessionários da igreja, camas e um roupeiro. Os espaços reservados às oficinas encontram-se desativados.

 Salão no prédio do educandário com vista para a área verde.  Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem

Crianças e adolescentes acolhidos no local viajavam de trem do Recife até a Colônia Orfanológica Isabel. A disciplina era rígida e o comportamento considerado inapropriado poderia ser punido com castigos, que variavam de golpes de palmatória nas mãos à reclusão numa cafua (aposento que servia de prisão) na gestão dos capuchinhos. “Os meninos podiam ficar até oito dias na cafua, recebendo apenas pão e água, o tempo mínimo de permanência era de duas horas”, informa Ricardo Guerra.

Usina

A Ordem dos Frades Menores Capuchinhos administrou o orfanato até setembro de 1894, como registra Sebastião de Vasconcelos Galvão (1863-1928) no Dicionário Corográfico, Histórico e Estatístico de Pernambuco. “Antero Vieira da Cunha (produtor sucroalcooleiro no século 19) recebeu o título de Barão de Araripe pelo empenho na implantação da Colônia Orfanológica Isabel”, informa Reinaldo Carneiro Leão, primeiro secretário do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano.

“O governo do Estado implantou uma usina de açúcar experimental para os órfãos, ao lado do colégio, os meninos plantavam cana e fabricavam açúcar na Usina Frei Caneca. Anos depois ela foi arrendada, passou a ser denominada Usina Colônia e hoje está desativada”, diz Reinaldo. Nesse mesmo terreno, bem antes da construção da Colônia Militar de Pimenteiras da Colônia Orfanológica Isabel, o governo da província havia instalado uma reserva indígena, para aldeamento de índios de Escada, acrescenta.

 Quarto com cama e pia do século 19 no primeiro andar do colégio. Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem

É esse local cheios de histórias que o prefeito de Jaqueira, Marivaldo Silva de Andrade, pretende incluir num roteiro turístico municipal. “Vou discutir com a Santa Casa a parceria, somos uma cidade rica em água, temos casarões antigos e uma reserva de mata atlântica com 600 hectares (Reserva Particular do Patrimônio Natural Frei Caneca)”, enumera o prefeito. Parte do Educandário São Joaquim, observa, poderia funcionar como polo de faculdade ou escola profissionalizante agrícola para a região da Mata Sul.

O educandário ocupa o andar térreo, com seis salas de aula em horário integral, diz a assistente social da Santa Casa de Misericórdia Jéssica Nayara Domingos. Há, também, salas para biblioteca, atendimento odontológico, serviço de psicologia, bazar e setor administrativo. A Santa Casa mantém oito instituições, sendo seis educacionais e dois abrigos geriátricos, o São Francisco em Palmares (Mata Sul) e o Padre Venâncio na Várzea (Recife).

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