Quem circula pelo Centro do Recife tem a oportunidade de apreciar belas paisagens. Atravessar as pontes que ligam o bairro da Boa Vista aos bairros de Santo Antônio e São José, por exemplo, deveria ser algo tranquilo e prazeroso. Mas andar por estes espaços traz à tona um problema que parece ter sido naturalizado: a depredação. Lixo, pichação, estruturas e equipamentos quebrados se misturam ao ambiente de tal forma que, para a população, já se tornaram parte da realidade.
A Ponte da Boa Vista, que liga os bairros da Boa Vista e Santo Antônio, não escapou do vandalismo. Do corrimão, 11 metros de canos de ferro e latão foram roubados. Partes das estruturas que os prende ao parapeito estão quebradas, como se a depredação acontecesse em fases. As telas que compõem o gradil estão com fios de ferro faltando. Um homem, suspeito de roubar partes da estrutura de estações de BRT, foi preso e confessou também ser responsável pelo furto da ponte.
Quem circula pelo equipamento tem sensação de insegurança. “A gente anda por aqui e vê que está tudo acabado, feio. Isso afasta porque dá um ar de abandono ao espaço”, comenta a artesã Cassia Calazans. Irmã dela, a estudante Rafaelle Calazans concorda e acrescenta que falta investimento nesta área da cidade. “O foco da prefeitura parece estar no Marco Zero. O Centro é deixado de lado. Se houvesse segurança, fosse um espaço bonito, que turista não ia querer apreciar uma paisagem destas? Passar por estas pontes e ver estes casarões (da Rua da Aurora) é conhecer a história da nossa cidade”, pontua.
Em alguns pontos o descaso parece ter mais culpado. Usuários dizem que o poder público é ausente e órgãos alertam para o descuido da própria população. É o que acontece na Praça Maciel Pinheiro, na Boa Vista. Tomada por pombos, a praça já quase não tem bancos inteiros. A água que cai da fonte suja e o lixo tomam conta do piso onde antes havia grama. O que era para ser um ponto de descanso e lazer acabou se tornando o retrato da falta de consciência e cuidados. “Isso aqui é uma tristeza, é abandono total. Só tem lixo, você quer sentar e os bancos estão todos quebrados, de noite quase não tem luz”, diz o prestador de serviços José Martins.
Os problemas encontrados
Dentre os problemas de depredação, a pichação é um dos mais recorrentes no Centro do Recife. Fachadas, placas, pontes, totens. Nada escapa. No bairro do Recife Antigo, por exemplo, o letreiro instalado no Cais da Alfândega para se tornar um cartão postal da cidade com os dizeres “Pernambuco: Coração do Nordeste” hoje está completamente pichado e envergonha recifenses que passam por lá. “Isso deveria ser um local para as pessoas tirarem fotos e guardarem como recordação de um lugar lindo, mas está tudo sujo. Eu me sinto incomodado com isso”, frisa o estudante de zootecnia Francisco da Silva Neto.
Segundo a Emlurb, por ano são gastos R$ 2 milhões para recuperar monumentos, pontes e edificações alvos de vandalismo. O valor inclui equipamentos quebrados e pichação. Um orçamento está sendo feito para reposição dos ferros roubados da Ponte da Boa Vista, mas a ação ainda não tem prazo, assim como a reposição da fiação que ilumina a ponte Princesa Isabel. Com relação à Praça Maciel Pinheiro, o órgão informou por nota que a mesma recebe “manutenção constante e limpeza diária”, apesar de todo o lixo registrado no local. Quanto aos bancos, a promessa é que seja feito um levantamento, também sem data, para que sejam feitos reparos.