De gravata borboleta cor-de-rosa e um lencinho azul no bolso do paletó, o boneco gigante do garçom Isaías Pereira da Silva, fundador do Bacalhau do Batata e falecido em 1993, desceu a Ladeira da Sé, em Olinda, na manhã da Quarta-Feira de Cinzas (06/03), convidando foliões dos quatro cantos do planeta para a despedida do Carnaval 2019. O detalhe na fantasia – é a primeira vez que o boneco troca a tradicional cor preta da gravata de garçom – não passou despercebido. “Ficou muito charmoso, Batata (o apelido de Isaías) está dizendo para todo mundo que cor-de-rosa pode ser usada por qualquer um, seja homem ou mulher”, afirma a estudante Mariana Oliveira, 23 anos, moradora do Recife.
A novidade na roupa, informa Fátima Araújo, presidente do Bacalhau do Batata e sobrinha do fundador do bloco, é uma homenagem às mulheres. “Dia 8 de março é o nosso dia, das guerreiras do Brasil e do mundo, por isso ele saiu com a gravata cor-de-rosa”, declara Fátima Araújo, no Alto da Sé, enquanto a agremiação anunciava a hora da saída, às 10h30 desta quarta-feira (6). “Eu fico muito emocionada quando estou descendo essa ladeira e escuto essa orquestra, lembro do meu eterno Batata, que eternizou-se no meu coração e em Olinda também. Você consegue imaginar uma Quarta-Feira de Cinzas sem o Bacalhau do Batata?”, indaga a carnavalesca.
Nem Fátima consegue e nem a psicóloga Vera Alves, moradora de Olinda. “Acompanho há quase 25 anos, o Bacalhau do Batata faz parte da minha memória afetiva. Sou nascida e criada em Olinda e Carnaval para a gente não acabava nunca porque a gente tinha de esperar o bacalhau na quarta-feira. Na minha casa tinha uma tradição, meu pai acordava bem cedinho, descia, comprava o bacalhau e mainha fazia uma bacalhoada para esperar o bloco passar. Hoje (ontem), estou me despedindo do Carnaval com o coração apertado, mas ano que vem tem mais e estarei aqui de novo”, declara Vera Alves.
A agente comunitária de saúde Rejane Emília Alves, atendeu à convocação e veio de Aliança, município da Zona da Mata de Pernambuco, para brincar no Bacalhau do Batata. “Faço isso todos os anos, na verdade cheguei no sábado (2) e fui direto para o Galo da Madrugada, no Recife. Emendei com o desfile do Homem da Meia Noite, em Olinda e fiquei aqui até agora. Infelizmente, a quarta-feira ingrata chegou e depois do bacalhau volto para o interior porque trabalho amanhã (quinta-feira, 07)”, afirma Rejane Emília.
Estreia
Estreante na festa, a enfermeira mineira Angélica Carvalho descobriu ontem os encantos do Bacalhau do Batata, bloco fundado em 1962 e que completa 57 anos de folia em Olinda. “Só conhecia pela TV e matérias de jornais, estou achando maravilhoso. No hostel onde estou hospedada o pessoal fez muita propaganda e todo mundo recomendou. O calor é grande, está muito quente, mas estou amando. Não se venho ano que vem, mas tenho de voltar outra vez, é muito bom”, diz Angélica Carvalho.
O bloco desceu a Ladeira da Sé ainda pegando o embalo do frevo, passou pela Rua do Bonfim já animado e chegou aos Quatro Cantos Pegando fogo, som do hino da Troça Ceroula. “O bacalhau foi fundado nessa ladeira e é dela que sempre vamos descer, até a Praça do Carmo, num percurso de quase sete quilômetros. Levamos no estandarte nossos ingredientes: bacalhau, cebola, pimentão, alface, batata, coco e pimentinha. No fim do desfile vai tudo para a panela e a gente come com uma cachacinha”, avisa Antônio Lucena Rodrigues, diretor do Bacalhau do Batata.