“Eu quero alguém que quando acabe fevereiro, o ano inteiro venha comigo morar. Quero um amor que vá além da brincadeira, e que depois da quarta-feira, ainda queira namorar.” Quem já viveu um romance em pleno Carnaval sabe que é pequena a chance de ele continuar após a última farra do Reinado de Momo. Mas como no refrão da música de Vânia Abreu (Além da brincadeira), há histórias de casais que seguiram com seus amores e decidiram ficar juntos por outros Carnavais.
Numa segunda-feira, 1998, na frente da Pitombeira dos Quatro Cantos, em Olinda, o arquiteto pernambucano André Bacelar, 48 anos, conheceu a fisioterapeuta paulista Valéria Baldassin, 44. “Engatamos uma conversa, até que os amigos fizeram uma roda em torno da gente e em coro, começaram a gritar ‘beija, beija, beija’. No burburinho que se seguiu, ela se perdeu dos amigos e ficou comigo o restante da noite”, relembra André.
De lá, seguiram para a Noite dos Tambores Silenciosos, no Pátio do Terço, no Recife. André pegou um Fusca emprestado para levar Valéria em Piedade, Jaboatão, onde estava hospedada. Combinaram de se encontrar em Olinda, de novo, no dia seguinte. Mais um dia de folia, com direito também à praia e à saudosa Soparia, no Pina.
Quarta-Feira de Cinzas, Valéria volta para Brasília, onde reside até hoje. Entre vários telefonemas, encontraram-se mais duas vezes: ele foi visitá-la na Semana Santa, ela veio ao Recife no Dia dos Namorados. “De presente, ganho de Valéria uma mala. Em 31 de julho de 1998 aterrisso em Brasília para passar férias, mas terminei ficando. Faz 21 anos daquele Carnaval”, relembra André.
“Foi meu primeiro Carnaval em Pernambuco. Jamais imaginaria que fosse conhecer meu marido, pai dos meus filhos, em plena Olinda. Brincamos muitos Carnavais depois de lá e agora fizemos um bloco em Brasília com um grupo de amigos”, diz Valéria, em referência ao Bloco Ondas Livres da Asa Norte.
RECIFE ANTIGO
O comerciante César Augusto Santos, 50, e a pedagoga Josiene Alves, 52, também deram o primeiro beijo ao som do frevo. Foi na Praça do Arsenal, no Bairro do Recife, em uma das prévias do mesmo ano de 1998. Brincaram Galo da Madrugada, foram pra Olinda. Apaixonados, continuaram a se encontrar. Quatro meses depois, pensaram em acabar o romance. Desistiram. Um ano e três meses após o início do namoro, passaram a viver juntos. Até hoje.
“Quando ainda nem tinha dado um beijo em Josi, naquele dia no Bairro do Recife, peguei na mão dela. E de lá pra cá, não soltei nunca mais”, conta César, que com Josi criou os quatro filhos dela e virou pai do coração. Enfrentaram juntos a dor pela morte de um deles, vítima de latrocínio, em 2013.
“Carnaval me deu alegria imensa porque foi nele que comecei minha história com César, minha alma gêmea. Também uma dor extrema porque perdi um filho. Tento superar, só não é mais como antes. Mas gosto de ver a vibração das pessoas na folia”, afirma Josi.
