Galo da Madrugada. Caboclo de lança. Frevo. Homem da Meia Noite. Olinda. Recife Antigo. Foliões leais a seus blocos. Se você decifrou a mensagem não tem perigo de errar o nome dessa terra. Sim, estamos falando de Pernambuco e daquela festa democrática por natureza que bate à nossa porta. É por isso neste domingo (09), Dia do Frevo, o JC compartilha com os leitores um Caderno Especial com as maravilhas do nosso Carnaval. Afinal, faltam só 12 dias para a abertura oficial da folia. Divirta-se!
Frevo é maravilha que nenhuma outra terra tem
Por José Teles
Parafraseando Lourenço da Fonseca Barbosa, o mestre Capiba, Pernambuco tem uma maravilha que nenhuma outra terra tem. É frevo, meu bem. É frevo, meu bem. Oficialmente, ele veio ao mundo em 9 de fevereiro de 1907, mas já era dançado bem antes dessa data. Sim, dançado, porque a música e a dança nasceram juntas, mas gêmeos bivitelinos. A gestação começou nas primeiras décadas do século 19. O padre Lopes Gama, árbitro dos costumes pernambucanos, não se cansava de recriminar uma nova dança surgida em meados dos anos 30 do século 19, o galope: “Em certa cidade do nosso Brasil, o galope já passa a furor. Em qualquer companhia, em guinchando a rabequinha, e ferindo o tom, já ninguém se pode ter: toca tudo a galopar, moças, velhas, rapazes e velhos, tudo entra a dar coices que, parece, vem as casas abaixo, cada um trava de seu par, e a salas, o corredor, os quartos, tudo é pequeno âmbito para o santo galope. Dizem-me já ter acontecido (valha a verdade), que um desses pares galopadores, começando na sala, foi calcorreando, espinoteando pelo corredor, e daí eclipsarão-se ambos (ele e ela), pelas escadas abaixo e ninguém mais lhes pôs o olho"
Leia mais sobre o frevo, a primeira maravilha
Ode ao folião que resiste com o passo no pé
Por Valentine Herold
Mesmo longe do centro da folia, a vontade de se entregar ao passo e de se preparar para o Carnaval é a mesma entre os alunos das aulas abertas dos Guerreiros do Passo, que se encontram todas as quartas e os sábados das semanas que antecedem os dias de Momo. O grupo, idealizado em 2005 pelo passista Eduardo Araújo, dá continuidade ao legado de Mestre Nascimento do Passo, de quem ele e alguns outros professores foram alunos, seguindo sua metodologia e filosofia de ensino. Tesoura, pontilhado, ponta de pé e calcanhar, chutando de frente, metrô, trocadilho.... Os passos se sucedem e os passistas seguem o ritmo da música.
Leia mais sobre o folião, a segunda maravilha
Nas veias do Galo da Madrugada corre sangue pernambucano de Carnaval
Por Ciara Carvalho
Esqueça a lógica matemática. Se cabem, ou não, 1, 2 ou 3 milhões de pessoas naquelas ruas estreitas. O Galo da Madrugada é grande de dentro para fora. Pelo que se conta, mas, sobretudo, pelo que é intangível. Tudo nele é superlativo. De dimensões irreversíveis. É como se, diante do espelho, aquela massa, explodindo de calor, refletisse a síntese da natureza gigante que é ser pernambucano. É coisa nossa ter o maior bloco de Carnaval de rua do mundo, com atestado e de papel passado. O Galo somos nós, mascarados ou não. É o folião, sozinho, fantasiado de sonho. É a multidão, mergulhada no devaneio coletivo de Momo. Nem precisa gostar de Carnaval para estufar o peito de orgulho ao ver o bloco, majestoso, rasgando a Avenida Guararapes sob o sol escaldante do meio-dia. Quem vai jura: a emoção é indescritível. “Tem que vir e sentir.” Para quem assiste, é de tirar o fôlego. No chão, no camarote, nas redes sociais, na tela da TV ou só de ouvir falar. É impossível ficar indiferente a essa imensidão chamada Galo da Madrugada.
Leia mais sobre o Galo da Madrugada, a terceira maravilha
A misticidade que envolve o Homem da Meia Noite
Por Cleide Alves
Não é toda criatura do sexo masculino que tem a proeza de chegar aos 88 anos de idade arrancando suspiros da mulherada. E antes que vocês me acusem de preconceito, ou de estar puxando a brasa para minha sardinha, vou logo revelar a identidade do sujeito: O Homem da Meia Noite. Sim, ele mesmo, o famoso calunga do Carnaval de Olinda. Quem já viu um desfile do gigante sabe exatamente do que estou falando. Elegante em seus quase quatro metros de altura, ele tem um encantamento que nenhum outro tem.
Leia mais sobre o Homem da Meia Noite, a quarta maravilha
Cidade Alta de Olinda se transforma e liga a chave da euforia
Por Cleide Alves
Por seis ou sete meses, a Cidade Alta de Olinda é um pacato vilarejo colonial com 6.583 habitantes abrigados em 2.405 domicílios e entrecortado por 16 igrejas antigas. A vida mansa, perfumada pelo cheiro de jasmim e regulada pelo repique dos sinos, começa a se transformar em setembro. Não em um dia qualquer, mas precisamente no dia 7. Em Olinda, 7 de setembro não simboliza apenas o feriado nacional pela Independência do Brasil, nem a chegada do verão, que aliás chegou com fé. É a abertura da temporada das prévias carnavalescas.
E aí, por cinco ou seis meses, para o bem e para o mal, o Sítio Histórico de Olinda não é o mesmo. Nem adianta dizer que o Carnaval tem data e é só em fevereiro ou março. “Tudo muda a partir de setembro”, afirma a fotógrafa, fundadora da empresa Proa Cultural e morada do Bonfim, Maria Chaves, 41 anos. A quantidade de gente na rua é o principal termômetro. De repente, a pacata Cidade Alta passa a conviver com milhares de pessoas nas prévias, em especial aos domingos, depois aos sábados e às sextas-feiras também.
Leia mais sobre as ladeiras de Olinda, a quinta maravilha
Coração freva mais forte no Recife Antigo
Por Amanda Rainheri
Se é verdade que o mundo começou no Recife, como disse o pintor Cícero Dias, é da paisagem mais charmosa da capital pernambucana que vêm todas as coisas. Oficialmente, ele se chama Bairro do Recife, mas recifense que é recifense só chama Recife Antigo. Se tiver mais intimidade, aí basta Antigo mesmo. Em forma de ilha, o bairro é, sem dúvida alguma, um mundo à parte. As ruas de paralelepípedo e pedras portuguesas, ladeadas pelo casario colorido de arquitetura europeia não deixam mentir. O Antigo respira a história da cidade, mas também é polo tecnológico e oferece algumas das melhores opções de lazer e cultura do Recife. Achou pouco? O bairro, parada obrigatória para qualquer turista, ainda é a estrela do Carnaval recifense.
Quando os primeiros clarins de Momo anunciam a folia em Pernambuco, todos os caminhos levam ao Marco Zero. Muito mais do que apenas servir de referência para medir a distância entre as cidades, ele é o coração da festa, que bate ao som de diferentes ritmos e agrega as mais variadas tribos, nações e expressões culturais. Do maracatu ao frevo, passando pelo afoxé, caboclinho, urso e pela poesia dos blocos líricos, o Antigo se tornou uma joia do Carnaval pernambucano. Uma história que começa há cerca de duas décadas.
Leia mais sobre o Recife Antigo, a sexta maravilha
Caboclo de lança, guerreiro do maracatu, desperta fascínio
Por Adriana Guarda
Ele se veste para a guerra. Pesado surrão nas costas, cabeleira de tiras reluzentes, gola de lantejoulas coloridas e uma lança com mais de dois metros de comprimento. Há três décadas, o caboclo de lança foi alçado a uma das figuras de maior destaque do Carnaval de Pernambuco. Mergulhado em simbologias, o guerreiro do maracatu de baque solto desperta fascínio e medo. Quem é esse ser cheio de força, mas que também tem a habilidade de enfeitiçar as pessoas? No meio da folia, eles atraem e afugentam. Há quem suba a calçada quando eles passam com seus ruidosos chocalhos e quem peça para fazer selfie com eles. Nas peças de turismo e do período momesco do Estado é improvável não ver o caboclo de lança.