"Com ela não tinha tempo ruim, tudo era motivo de festa. Com o acidente, todo mundo ficou em choque. Ela era muito querida". A frase é de Maria Emília Oliveira*, 20 anos, amiga de Lidyanne Vanessa. Uma jovem professora de 22 anos que seguia de moto pela Avenida Mascarenhas de Moraes, no bairro da Imbiribeira, quando colidiu com um carro, no último dia 18 de outubro. Com o impacto, ela foi jogada para frente e um caminhão passou por cima dela. Segundo Oliveira, nenhum dos outros envolvidos na colisão prestou socorro a Lidyanne.
O Dia Mundial em Memória das Vítimas de Trânsito, lembrado neste domingo (20), é uma oportunidade de conscientizar a população sobre os números de mortes que acontecem nas ruas, avenidas e estradas. De acordo com números da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco (SES), 2.020 pessoas morreram em acidentes de trânsito em 2013, já em 2014, o número caiu para 1.942, em todo o Estado. Entre os tipos de vítima, os motociclistas, assim como Lidyanne, são maioria. Em 2013, 858 faleceram, já em 2014, o número de óbitos foi de 838. Depois dos motociclistas, os mais afetados em Pernambuco são os pedestres, seguidos de perto pelos motoristas de automóveis.
Vida que vai, saudade que fica
A vida que fica pelo caminho, segue viagem na memória de amigos e familiares da vítima. "Ela tinha um jeito muito tranquilo de levar a vida e sempre transmitia muita energia para as amizades dela. Depois do que ocorreu, sinto que a minha missão é essa, de levar a energia dela adiante", ressaltou Oliveira.
Quando existe alguma doença ou o envelhecimento vai se aproximando, amigos e familiares se preparam para o pior. Mas, quando a morte acontece de maneira acidental, quando se sabe que um instante poderia evitar tanto sofrimento, a dor acaba sendo mais forte, como aponta a psicóloga Maria Auxiliadora Borba.
"A morte é a unica certeza da vida e a gente convive com a consciência dessa finitude sempre. Mas o que faz alguém conseguir viver é o fato de nunca se saber quando isso pode vir a acontecer. Quando ela (a morte) é antecipada, como em um acidente de trânsito, o choque emocional é muito grande" declarou. Segundo ela, nem todos os entes queridos conseguem suportar isso. "Toda perda gera um buraco emocional, um vazio. Como consequência, muitos dos que ficam tem surtos psicóticos, outros vão capitalizar isso para ajudar o próximo, mas a verdade é que sempre é uma dor avassaladora", finalizou.
O fato de não poder dar um último adeus também impacta os mais próximos à vitima. Para Maria Emília, não ter essa oportunidade é motivo de grande arrependimento. " Assim que soube o que aconteceu fiquei desnorteada, sem reação. Estávamos sem nos falar há um tempo e hoje me arrependo de ter perdido o contato com ela", relembrou.
Em agosto, uma ação promovida pelo Observatório Recife e a Associação Metropolitana de Ciclistas do Grande Recife (Ameciclo) chamou a atenção de quem passava pela Avenida Conde da Boa Vista. Na ocasião, coroas de flores e cruzes alertavam sobre a violência no trânsito da capital pernambucana.
*nome fictício, pois a personagem não quis ser identificada