Um dia após o acidente que deixou pelo menos 60 pessoas feridas no metrô do Recife, ocorrido na manhã dessa terça-feira (18), a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) ainda não divulgou a possível causa da colisão entre os trens, que aconteceu na estação Ipiranga, Zona Oeste do Recife. A empresa foi notificada pelo Procon Pernambuco nessa terça, e recebeu um prazo de 24 horas para prestar esclarecimentos. Até a manhã desta quarta-feira (19), no entanto, a CBTU ainda não procurou o órgão estadual.
Segundo o Procon-PE, o metrô do Recife tem até as 17h desta quarta-feira (19) para se pronunciar. O gerente de Comunicação da CBTU, Salvino Gomes, afirmou, em entrevista à TV Jornal, que ainda não é possível definir o que teria levado os trens a colidirem. "Com todo respeito ao pessoal do Procon, a gente tem um procedimento de 30 dias, as comissões funcionam assim e vamos trabalhar neste sentido. Não vamos dar nenhuma informação precipitada. A gente pode dizer para o Procon que estamos iniciando, recolhendo dados que são, inclusive, técnicos. Vamos passar ao Procon as informações iniciais, apenas isso", declarou.
Questionado sobre as possíveis punições que o metrô do Recife receberá caso não atenda o prazo, o Procon-PE disse que só se pronunciará após as 17h dessa quarta. A reportagem entrou em contato com a Polícia Civil de Pernambuco (PCPE) para saber como está o andamento da investigação do acidente, que está a cargo da delegacia de Afogados, na Zona Oeste do Recife. A PCPE respondeu que só falará sobre o acidente quando forem finalizadas as investigações.
Também nessa terça, o Procon instaurou um processo administrativo. Nele, são exigidas explicações e soluções para pontos como as paralisações do transporte metroviário; condições de uso do maquinário; necessidade de manutenção do maquinário; condições de segurança; ineficiência do serviço; planejamento de ações adotadas para melhoria do transporte e da segurança dos usuários. Uma audiência pública está marcada para o dia 27 de fevereiro, na sede da Secretaria de Justiça, para discutir sobre o transporte metroviário.
Acidente deixou pelo menos 60 feridos
Era para ser um dia normal. Mas, para os passageiros do metrô do Recife, o que deveria ser uma exceção, virou regra. Na manhã dessa terça-feira (18), o cenário dos frequentes transtornos com trens quebrados, estações fechadas e falhas nos mais diversos setores, deu lugar ao pânico, correria, usuários feridos, ambulâncias e paralisação da Linha Centro. Isto aconteceu devido ao choque entre dois trens, na estação Ipiranga, que ocorreu por volta das 5h40 e pelo menos 60 passageiros precisaram ser socorridos.
Segundo testemunhas, os dois trens seguiam em direção à Estação Recife. Um deles, que veio do ramal Camaragibe, estava parado na plataforma. O outro, do ramal Jaboatão, acabou colidindo na traseira do primeiro. Passageiros ficaram feridos. Alguns chegaram a cair dentro das composições e a desmaiar, devido ao tumulto. Equipes do Corpo de Bombeiros e do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foram acionadas. Aproximadamente 30 pessoas foram socorridas pelos Bombeiros, enquanto 37 foram pelo Samu, que enviou onze viaturas ao local.
A maioria das 64 vítimas do acidente já receberam alta dos hospitais para onde foram encaminhadas. No entanto, quatro ainda estão internadas na manhã desta quarta-feira (19), em observação. As informações são da Secretaria de Estado do Saúde (SES).,
Operação normal e passageiros temerosos
Depois de um dia de transtornos e paralisação na linha Centro do metrô do Recife, a operação, na manhã desta quarta-feira (19), está normalizada. Os trens da linha Centro voltaram a circular na noite dessa terça-feira (18), por volta das 19h. O sistema estava parado desde as 5h30 da terça. O clima na estação Central do metrô do Recife, no bairro de São José, no Centro da capital pernambucana, era de medo entre os passageiros na manhã desta quarta-feira (19). Um dia após o acidente, os usuários do transporte relataram não se sentirem seguros dentro dos vagões. Apesar do sentimento, a movimentação é tranquila no local.
A faxineira Edileuza Alves, de 45 anos, saiu do Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife, em direção à estação Central do metrô. Para ela, o percurso foi de tensão. "Com certeza eu fiquei com medo. A gente veio com medo de acontecer novamente. Isso nunca aconteceu, mas mesmo assim abalou muita gente. Já vi o metrô quebrar e a gente ter que descer, caminhando pista afora. Acabo ficando com medo disso porque uma vez eu não tinha dinheiro para a passagem de ônibus, por sorte uma amiga pagou para mim", relata a passageira.
O aposentado José dos Santos, de 77 anos, costuma andar de metrô todos os dias. Ele sempre pega o transporte na estação Tejipió, na Zona Oeste do Recife. José conta que, nesta quarta-feira, evitou pegar o último vagão, com receio de que algo ocorresse. "Eu estou evitando o último vagão, porque quem ficou nele ontem se machucou mais. Eu não cheguei a ficar com medo, mas preferi evitar esse último vagão", comentou. Para a comerciante Denise Silva, de 48 anos, a probabilidade de algum acidente ocorrer é baixa, por isso, não há motivo para medo.
"Não tive medo não. Claro que o acidente é preocupante. Eu venho de Prazeres para cá e não fiquei com medo porque é muito raro acontecer", disse. A estudante Natália Bandeira, de 33 anos, veio da cidade de Rio Formoso, no litoral Sul de Pernambuco, para comprar adereços para o Carnaval. Ela diz que foi assustador utilizar o transporte nesta quarta. "Toda hora eu tava querendo sentar porque, se acontecesse alguma coisa, pelo menos eu tava sentada. A gente fica apreensivo mesmo, fica com medo. Mas graças a Deus deu tudo certo", acrescenta.
A jovem afirma que os problemas do metrô são frequentes. "É muita gente, tem os ambulantes, fica aquele barulho, empurra-empurra. Eu não uso diariamente o serviço, mas sempre que estou aqui no Recife eu utilizo. É frustante, a gente fica à mercê. E as passagens sempre aumentando. Serviço de qualidade não existe", completa.