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Quando a internet interfere na educação

Encontro discute de que forma educadores podem utilizar recursos tecnológicos para facilitar aprendizagem, tornando alunos participativos e estabelecendo limites de uso

Juliana Godoy
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Juliana Godoy
Publicado em 17/12/2011 às 18:31
Foto: Heudes Régis/JC Imagem
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Aos 18 anos, Victor Santos confessa: se estiver em casa pode ficar o dia inteiro na frente do computador. Entre uma atualização de status e outra, abre o caderno e dá aquela olhada no material da escola. Precisando, aproveita a internet e pesquisa na rede algum complemento para o estudo. Assunto das principais redações de vestibular do Estado e do Enem, o acesso ilimitado dos jovens ao mundo virtual preocupa os educadores. O tema tecnologia e educação, discutido no primeiro EduTec, Educação e Novos Paradigmas, evento promovido pelo Ministério da Educação (MEC) no início do mês, é uma realidade nas escolas. O que falta é estabelecer o papel das redes sociais nesse novo paradigma de ensino.

Facebook, Twitter ou até o mais novo Google Plus tomam a atenção de quase todos os jovens. De acordo com a Stocktown Production, produtora de vídeos sobre mídia social, apenas no último ano a rede criada por Mark Zuckerberg ganhou aproximadamente 200 milhões de usuários, que ficam conectados, pelo menos, cerca de 55 minutos diariamente. Victor, que terminou o ensino médio este ano, vai além. Fica períodos inteiros do dia conectado. “Estando em casa deixo o computador ligado e sempre que preciso dou uma olhada. Apenas quando tenho outra programação é que saio da internet.”

O jovem garante que, além de se relacionar com os amigos, aproveitava para complementar o que havia sido visto em sala de aula. “Criamos um grupo na sala para trocar ideias, assuntos e informações sobre as provas ou o que foi visto na aula. Não era bem estudar, era mais uma ajuda.”

Atenta à dispersão causada pelas redes sociais, a diretora da Fundação Pensamento Digital, no Rio Grande do Sul, Marta Voeckler, que participou do primeiro EduTec, no Rio de Janeiro, acredita não existis solução para o problema. Mas defende a necessidade dos educadores refletirem como como aproveitar as ferramentas. “Não é trazer a informática para dentro da educação, mas, sim, criar uma nova maneira de ensinar através da tecnologia. As redes sociais oferecem recursos fantásticos, mas não deixam de ser um ambiente de distração. É preciso fazer uma convergência desses dois fatores.”

No projeto desenvolvido no Centro Social na Vila Cruzeiro as crianças têm acesso à rede de uso próprio (acesso fechado) do Noosfero, software pensado para ser rede social e não ferramenta educacional. “Através dela aplicamos teorias ligadas à necessidade de construir. Ou seja, a criança tem livre acesso para produzir desenhos, vídeos, textos e ainda compartilhar com seus coleguinhas.”

Além disso, o sistema de avaliação se inverteu. Em vez de receberem notas no final dos trabalhos, o progresso do aluno pode ser avaliado continuamente. “Nesse ambiente você consegue recolher, valorizar e estimular a produção dos estudantes. Vai existir uma interação entre alunos e professores antes do produto final”, acrescenta.

Para Robert Knezevic, diretor regional de parcerias da Sesame Workshop, criadora do programa Vila Sésamo, o importante é justamente essa criação do aluno. A mudança de ordem, partindo do aluno para o professor, pode agregar ainda mais ao processo educacional. “É importante essa geração de conteúdo de baixo para cima. Os educadores e geradores de conteúdos para educação precisam pensar em uma maneira de usar o que é criado por esses estudantes.”

CHAVE - Apesar da baixa qualidade do que é postado nas redes sociais, Raffaella Traniello, professora de educação infantil de escolas públicas na Itália, acredita que a chave para a mudança e para interação das mídias sociais com educação está justamente nessa produção. “Às vezes o que é produzido por eles pode ser ruim, mas cabe aos professores investir em seu próprio treinamento para ajudar e qualificar esses alunos.”

Com ou sem redes sociais o entrave, debatido durante o EduTec, para inserção da tecnologia na educação foi a conexão com a internet. Dados da Nielsen dão conta de que oito em cada dez brasileiros ainda usam internet lenta, de até 512 Kbps ou de média velocidade, até 2 Mbps. “Uma realidade é que as crianças estão mais abertas a novas plataformas do que os professores instrumentalizados. O problema de conexão leva a interatividade a zero”, afirma Rogério da Costa, doutor em história da filosofia.

“Essa questão da conexão é geral em toda a América Latina. Para mudar a escola é preciso, antes, mudar essa situação”, acrescenta Alejandro Rojas, criador do festival Trix & Trax, que alia entretenimento a educação e que vê em novas políticas públicas a única maneira de mudar esse cenário.

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