O prefeito do Recife, João da Costa, assinou neste sábado (24) ordem de serviço para a construção da ponte sobre o Rio Capibaribe, ligando Monteiro, Zona Norte, e Iputinga, Zona Oeste. A conclusão da obra, que começa nesta segunda, está prevista para 18 meses, mas o prazo deve ser prolongado devido a problemas com a desapropriação de imóveis. O Executivo municipal ainda negocia com parte dos 600 donos de casas na região, que precisam ser derrubadas para dar lugar ao projeto viário.
Durante o evento de assinatura para início dos trabalhos, moradores da Rua Maria de Fátima Soares, Iputinga, reclamaram do valor da indenização proposta pela prefeitura. “Moro aqui há 12 anos desde que consegui sair do aluguel. Agora, eles querem demolir minha casa por causa da ponte. Concordo com a construção, mas só saio se me pagarem acima de R$ 136 mil. A quantia que estão oferecendo é muito abaixo do valor de mercado. Meu imóvel não vale só R$ 120”, argumentou a dona de casa Mauricea Batista, 56 anos.
Ela acrescentou que foi convocada para três reuniões na Empresa de Urbanização do Recife (URB). “Compareci a todas. Estou disposta a negociar, mas é injusto a indenização. Eu queria que eles me dissessem onde vou comprar uma casa com esse dinheiro para morar com meus 14 filhos.” Já a aposentada Maria José Silva Santos, 65, está disposta a levar a pendência à Justiça. “Querem pagar R$ 60 mil na minha casa que vale muito mais. Comprei há 32 anos, tenho todos os documentos, tenho uma história aqui, não posso sair assim, de um dia para o outro”, afirmou.
A presidente da URB, Débora Mendes, disse que as negociações com os proprietários serão analisadas. “Vamos discutir cada caso individualmente. Parte das famílias desses 600 imóveis serão indenizadas e o restante, reassentadas em conjuntos habitacionais”, prometeu. Ele explicou que a primeira etapa da obra envolve a pavimentação e drenagem da Rua Jornalista Possidônio Cavalcante, na Iputinga.
O prefeito João da Costa, que discursou no local, enfatizou a diferença social entre os moradores dos bairros que a ponte ligará quando estiver pronta. “Uma senhora da Zona Norte me procurou e disse que os vizinhos de prédio estavam preocupados porque podem ter mais roubos, assaltos e assassinatos após a construção. Será que aqui tem um monte de marginal, de bandidos?”, gritou ao microfone, dirigindo-se ao público, a maioria moradores da Zona Oeste. “Isso é o que tá na cabeça de quem acha que a ponte separa o rico do pobre, que acha que os pobres têm que viver dentro da lama. Mas a gente vai romper esse preconceito, essa diferença”, completou.
A intervenção faz parte da terceira etapa do Programa Capibaribe Melhor, projeto de urbanização e requalificação da bacia do Rio Capibaribe que a prefeitura tenta viabilizar há cerca de dez anos. Esta etapa custará R$ 42,7 milhões, subdivididos com a construção da ponte e dos três subsistemas viários. Os recursos são do Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (Bird) e do município. O complexo viário irá encurtar distâncias e desafogar o trânsito em vias da cidade. A ponte terá 280 metros de extensão e 20 de largura e ligará a Rua Pinto Campos, localizada na Praça do Monteiro, à Rua Maria de Fátima Soares (lado oeste).