A pressão dos servidores da Universidade de Pernambuco (UPE) por mais investimento do Estado nas 14 faculdades e três hospitais ligados à instituição começou a dar resultados. A Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia declarou que vai lançar concurso para a contratação de servidores em junho, mês em que a UPE completa 21 anos de existência.
O anúncio foi feito ontem, dia que os profissionais ligados ao Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam), Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc) e Pronto-Socorro Cardiológico de Pernambuco (Procape) paralisaram as atividades para protestar contra sobrecarga de trabalho, sucateamento da infraestrutura das unidades e terceirização de serviços.
Devido à paralisação, pacientes que procuraram o ambulatório do Huoc ficaram sem atendimento. "Eu vim tentar marcar uma consulta na clínica médica para o meu marido, mas tá tudo fechado", disse a aposentada Maria Vitória da Silva. "Vim de Cupira e dei com a cara na porta. Eles podiam ter avisado", queixou-se outra paciente em meio à mobilização.
"Faz quase nove anos que não existe concurso para contratação de novos profissionais. Os antigos funcionários estão se aposentando e não são substituídos. Em vez de o Estado lançar concurso, tenta preencher a lacuna com a contratação de funcionários por tempo determinado e terceirização de serviços. Esses profissionais chegam a ganhar menos do que um salário mínimo", expõe o presidente do Sindicato dos Servidores da UPE (Sindupe), Gleidson Ferreira.
De acordo com o Sindupe, 800 profissionais precisam ser contratados para acabar com o déficit de servidores na UPE. A Secretaria de Ciência e Tecnologia informou que está fazendo levantamento nas unidades da universidade para definir os detalhes do concurso. O resultado do estudo deve ser divulgado até o fim deste mês.
A paralisação de ontem ainda foi marcada por passeata dos servidores, que seguiram do Huoc em direção à reitoria da universidade. Lá, os funcionários foram recebidos pelo reitor da instituição, Carlos Calado. No entanto, a direção da UPE afirma que não tem autonomia financeira para resolver os problemas denunciados pelos profissionais e que a responsabilidade sobre o lançamento do concurso e investimento em infraestrutura é do Estado.
A auxiliar de enfermagem do Oswaldo Cruz Vera Lúcia dos Santos, 56, é servidora do hospital há 35 anos e participou da mobilização. "Trabalho na área de odonto. Das duas salas dedicadas ao serviço, apenas uma funciona. A outra está inativa por falta de cadeira odontológica", revela.
A técnica de enfermagem Jeane Cristina Batista, 51, levou o celular carregado de fotos do bloco cirúrgico de pequenas cirurgias do Oswaldo Cruz para mostrar a situação na passeata. "As paredes estão mofadas, falta soro fisiológico, medicamento e esparadrapos", denuncia.