A menos de 20 dias do início do Carnaval, a estátua de Capiba, o mais conhecido compositor de frevo do Brasil, virou acampamento de moradores de rua, no Centro do Recife. Colchões, cachorros, fogareiro improvisado com lenha, baldes, mochilas e até um carrinho de supermercado cheio de roupa estão espalhados em volta da escultura, na calçada da Rua do Sol, ao lado do Rio Capibaribe.
Cerca de dez pessoas moram no local, no bairro de Santo Antônio. Todas ignoram a identidade do artista homenageado na estátua de concreto que acena para a cidade e faz parte do projeto Circuito da Poesia. “Dizem que é ‘Caboba’, sei quem é esse não”, afirma Luana Souza Nascimento, 21 anos. Ela se apresenta como a organizadora dos moradores de rua.
Uma bermuda estendida na placa de identificação da peça escondia do público as informações sobre o pernambucano Lourenço da Fonseca Barbosa (1904-1997), o popular Capiba. O frevo, ritmo que ele tão bem divulgou, foi reconhecido como Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Unesco, em dezembro do ano passado.
Os sem-teto não sabem dizer há quanto tempo estão acampados no lugar. Afirmam, apenas, que a prefeitura não impede a permanência deles na área. “Passamos o dia aqui mas, quando anoitece, vamos todos dormir debaixo da marquise do prédio dos Correios”, diz Sandra Maria da Silva, 23, da cidade de Limoeiro, no Agreste pernambucano. “Moro nas ruas do Recife há dez anos”, informa.
Luana Nascimento tem família em Peixinhos (Olinda) e Paulista, mas mora na rua há um ano, com o marido e um casal de cães. Nega, a cadela, fica amarrada por correntes no carrinho de supermercado. Pipoca, o macho, circula solto em redor da escultura de Capiba.
Procurada para falar sobre o problema, a Prefeitura do Recife não se pronunciou.