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Pezão: luxo e polêmica nas areias de Boa Viagem

Barraqueiro da orla vive em pé de guerra com a Prefeitura do Recife e atende público na areia com serviços diferenciados

Bruna Serra
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Bruna Serra
Publicado em 12/01/2014 às 11:00
Foto: Michele Souza/JC Imagem
Barraqueiro da orla vive em pé de guerra com a Prefeitura do Recife e atende público na areia com serviços diferenciados - FOTO: Foto: Michele Souza/JC Imagem
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Há exatamente um ano, o empresário Carlos Vasconcelos adentrou a sede da Prefeitura do Recife com um calhamaço de 600 páginas debaixo do braço. O comando municipal já estava sob a batuta do recém-empossado Geraldo Julio (PSB). Carlos queria entregar a papelada ao secretário de Mobilidade e Controle Urbano, João Braga, que cuida do processo de regularização da Praia de Boa Viagem, território onde Carlos Vasconcelos assume sua identidade preferida. Nas areias, ele é simplesmente “Pezão”, comandante da barraca homônima que roubou do Edifício Acaiaca o título de “point” da praia.

Carioca, 50 anos, Pezão não se conformava com a “falta de estrutura da praia”. Depois de deixar o posto de executivo em uma empresa de ferragens, decidiu dedicar-se ao projeto de criar nas areias de Boa Viagem o que chama de “serviço diferenciado”. “Você sabe, os barraqueiros aqui não têm instrução. Chegava na praia, procurava um lugar mais tranquilo e não tinha. Pedia uma cerveja gelada, não existia. Atendimento demorado, material sujo, isopor, cadeira e sombrinha sujos, enferrujados. As visitas que eu trazia comentavam o mau atendimento. Isso assustava os turistas”, analisa Pezão, que também é proprietário de um espaço de 1.700 metros quadrados em Maracaípe e do restaurante Herculano, no bairro do Pina.

Com o projeto debaixo do braço, Pezão foi em busca de patrocinadores para a empreitada. Conseguiu que uma marca de sandálias o ajudasse no que chama de “desafio”. Sendo assim, nada mais justo que nomear o local de Barraca do Pezão. Nas areias, o nome virou grife. Pés de borracha enfiados na terra levam ao chuveiro. “O único que não fica ligado o dia todo”, garante. Pezão vive em guerra com a prefeitura, por isso tentou sensibilizar – logo no início da gestão – o secretário que cuidaria da área. “Trabalhei muito pela eleição de Geraldo Julio.” O empresário se julga injustiçado por não poder disponibilizar aos seus clientes uma roda de samba acústica aos sábados.

“Já recebi diversas notificações, mas eu coloco a banda mesmo assim. Eu tinha um tapete vermelho aqui na calçada. Me mandaram tirar, um absurdo”, dispara, apontando para o calçadão, onde se pode ver estacionado um caminhão-baú de 8 metros que ele usa para transportar os 100 ombrelones que disponibiliza aos sábados e domingos para os 1.500 clientes que transitam nos dois dias pela barraca. A área comporta atualmente 500 pessoas e é alvo de queixas da vizinhança. “Tem um cara no prédio na frente que fica reclamando porque eu estaciono o caminhão aqui.”

Pezão gosta de dizer que tem uma clientela “AA”. Cita um a um os integrantes da sociedade recifense que costumam passar os fins de semana tomando espumante em “sua área”. “As pessoas diferenciadas entenderam a proposta. Começaram nas redes sociais a repassar. As pessoas começaram a ir: Sabrina Barbosa, Queiroz Filho. Esse público AA, bem frequentado. Guilherme do Galo, Mário Baô. Inclusive chamo Sabrina Barbosa de madrinha, porque foi ela a grande divulgadora”, destaca. Cada garrafa de espumante consumida no local custa R$ 90 e, para não esquentar, estão sempre imersas em baldes de gelo. “Só trabalhamos com Chandon.”

Para incrementar o negócio – cujo faturamento não revela “nem para a Globo” – Pezão comprou dois apartamentos na Rua dos Navegantes, paralela à Avenida Boa Viagem. Os imóveis foram transformados em uma cozinha industrial. Por meio de rádio, os garçons na praia fazem o pedido e dois garotos tem como única função transportar os quitutes da cozinha para a beira da praia, um percurso de 100 metros. “Na praia, vários barraqueiros manipulam comida – o que é proibido por lei – e a prefeitura não faz nada. Tudo que eu faço é um problema. Tentei fazer um réveillon nas areias e não tive permissão. Aí coloquei no Facebook que não estava fazendo porque a prefeitura não deixou”, dispara. A página do Pezão no Facebook conta com mais de 16 mil seguidores.

Para manter a estrutura, 35 funcionários trabalham na barraca, que já cresceu de tamanho duas vezes ao longo dos seus três anos de existência. A expansão foi possível graças ao que ele classifica como “parceiros”. São dois barraqueiros, que cedem suas áreas de praia e ganham um valor fixo por mês. “Isso porque eu fiz uma parceria com alguns barraqueiros de áreas laterais, que entenderam a necessidade do Pezão crescer, no qual eles também cresceriam, né? Então fizemos uma parceria. A área pertence a eles, eles recebem por isso. Sempre em termos de parceria e não para prejudicar. Ele já sabe quanto ganha por mês e vai ficar gerenciando aquele pedaço ali que pertence a ele”, completa Pezão.

Responsável pelo maior faturamento do ano, o verão é o momento mais esperado pelo empresário. Por isso, fechou parceria com uma cervejaria que patrocinará a troca das cadeiras e dos ombrelones. “Eu contrato uns policiais do Gati (Grupo de Apoio Tático Itinerante) para fazer a segurança aqui dos clientes. Tudo certinho”.

Ainda que a prefeitura seja responsável por normatizar o uso das areias da praia para o comércio, a Secretaria de Patrimônio da União (SPU) é responsável pela autorização de qualquer evento que se realize em áreas de marinha. A prefeitura garante que está em estudo um plano para regulamentar definitivamente o espaço. “Eu já fui convidado para dar palestras e cursos nas orlas de Salvador e de Maceió. Aqui nunca a prefeitura se interessou por isso.”

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