METEOROLOGIA

El Niño reduz chuvas no litoral de Pernambuco

Fenômeno, que geralmente se manifesta em dezembro, está em curso desde abril, modificando o clima na RMR e Zona da Mata

Claudia Parente
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Claudia Parente
Publicado em 09/08/2014 às 7:53
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Um velho conhecido dos brasileiros mais uma vez está alterando o clima no Sul e Nordeste. Mas, dessa vez, o fenômeno El Niño, que se caracteriza por provocar o aquecimento anômalo das águas superficiais do Oceano Pacífico equatorial, está causando maior impacto no litoral que no Sertão, onde tradicionalmente provoca grande estiagem. O motivo é que o “menino” resolveu chegar mais cedo, no mês de abril, afetando justamente o período chuvoso da Região Metropolitana e da Zona da Mata pernambucana.

Infográfico

Fenômeno El Niño em curso no Brasil

Segundo a meteorologista do Instituto de Pesquisa Agropecuária (IPA), Francis Lacerda, as chuvas dos meses de junho e julho reduziram a precipitação em torno de 30% em relação ao mesmo período do ano passado. A média história de junho é de 390 milímetros, mas esse ano choveu apenas 300 mm. E a situação em julho foi ainda pior. Tradicionalmente o mês mais chuvoso na capital pernambucana, com média histórica de 400 mm, as precipitações atingiram apenas 270 milímetros este ano. “Em algumas áreas, a água do Pacífico está até dois graus mais quente, causando modificação no regime de chuvas”, revela a meteorologista.

Ela explica que o Sertão não sofreu grande impacto este ano porque o período de chuvas já tinha acabado quando o fenômeno, que normalmente se inicia em dezembro - daí o nome “menino” (Jesus) por causa do Natal -, entrou em curso. O ápice do El Niño, segundo Francis Lacerda, deve ocorrer entre setembro e outubro. “Produtores de cana-de-açúcar têm ligado para o IPA, preocupados com a safra por causa da estiagem na Zona da Mata”, comenta.

Enquanto as chuvas diminuem, o calor aumenta. “O mês de agosto já está mais seco e mais quente que o esperado”, diz Francis Lacerda, informando que a temperatura máxima está está entre 29 e 30 graus, quando normalmente fica em torno de 28. Já a mínima, que em média é de 23 graus, está entre 24 e 25. “A umidade relativa do ar também está baixa por falta de chuvas.”

Professor de climatologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Lucivânio Jatobá explica que a redução das chuvas no litoral e Zona da Mata pode ocorrer por dois motivos: uma diminuição das temperaturas nas águas superficiais do Atlântico Sul, que independe do El Niño, e de bloqueios da frente polar Atlântica na Região Sul do Brasil. “Neste segundo caso, a influência indireta do El Niño é evidente. As frentes frias chegam mais enfraquecidas na parte Leste do Nordeste brasileiro.”

INTENSIDADE - Segundo o professor, embora o fenômeno tenha começado em abril e já estivesse muito desenvolvido nos meses de junho e julho, o que não é comum, ele ainda poderá estar intenso em dezembro. Nesse caso, provocará diminuição das chuvas no semiárido, que já vem sofrendo com a estiagem nos últimos anos.

Outro fato que tem chamado atenção este ano é a falta dos ventos fortes na Zona da Mata e litoral, que marcam o fim de julho e mês de agosto. O professor Lucivânio esclarece que esses ventos independem do El Niño. “Estão mais relacionados com diferenças de pressão atmosférica entre o centro de altas pressões do Atlântico Sul e as baixas pressões da faixa equatorial”, informa. A meteorologista Francis Lacerda complementa, explicando que o sistema de alta pressão, responsável pela aceleração dos ventos, está posicionado de forma desfavorável sobre o Oceano Atlântico. “Além de mal colocado, o sistema está mais fraco que o normal, prejudicando transporte de umidade e a formação de nuvens que provocam chuva”, finaliza.

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