Eles ainda são poucos. Contados nos dedos. Mas já fazem a diferença na paisagem da capital pernambucana. As primeiras iniciativas de telhado verde no Recife mostram como as edificações podem contribuir para reduzir as ilhas de calor da cidade. Pioneiras, elas chegaram antes mesmo da aprovação de um projeto de lei que torna obrigatória a instalação de tetos verdes na cobertura dos prédios. A proposta foi apresentada pelo Executivo em novembro do ano passado e está sendo discutida na Câmara dos Vereadores. Embora ainda isoladas, as experiências inserem o Recife na discussão de soluções urbanas que ajudem na melhoria da qualidade de vida da cidade.
As vantagens são muitas. Um prédio com telhado verde pode chegar a uma temperatura até seis graus mais baixa do que no seu entorno. Com a proliferação dos espigões de concreto, iniciativas que melhorem a sensação térmica da cidade são sempre muito bem-vindas. O precário sistema de drenagem da capital também agradece. “Além de diminuir as ilhas de calor, a cobertura vegetal ajuda na captação da água da chuva, reduzindo o acúmulo nas ruas, sobretudo no período de inverno”, explica o engenheiro agrônomo e paisagista Marcelo Kozmhinsky.
Responsável pela implantação de alguns projetos de telhado verde na capital, ele acredita que é uma questão de tempo, e de cultura, para que a ideia se espalhe pelas lajes da cidade. “O poder público é fundamental nesse processo. Em outras capitais, o Executivo dá descontos de IPTU para quem aplica a cobertura vegetal. São incentivos que ajudam a popularizar a ideia”, observa. Cidades como Rio de Janeiro, Curitiba e Porto Alegre já possuem lei regulamentando os ecotelhados. No Recife, a proposta é a instalação de teto verde na cobertura dos prédios habitacionais com mais de quatro andares e não-habitacionais com 400 metros quadrados de área coberta.
Sem nem saber do projeto de lei que tramita na Câmara dos Vereadores, o dono do Bar Central, André Rosemberg, transformou em realidade um antigo desejo. Aproveitou o telhado do seu empreendimento, no bairro de Santo Amaro, para plantar grama, hortaliças e árvores frutíferas, como maracujá, pitanga, jabuticaba, limão, acerola e laranja. Com apenas quatro meses, o jardim suspenso do Central começa a chamar a atenção de quem passa pela rua. A fachada vai ganhar uma cerca viva formada por pés de maracujá.
“É uma forma de devolver à cidade o que a gente recebe. De contribuir para a melhoria urbana do Centro, onde o Central está e onde eu cresci e sempre vivi”, diz Rosemberg. Morador de um prédio vizinho ao bar, o funcionário público Aldemir Pessoa de Melo, 64 anos, é só elogios à paisagem nova que aparece em sua janela. “A ideia é maravilhosa. Deveria ser padrão para todo canto. Só faz bem. Os pássaros adoram e os vizinhos ganharam uma vista mais bonita”, relata, espiando o jardim suspenso do quarto de seu apartamento.
Com uma vista de tirar o fôlego, o terraço do prédio do Softex, no Bairro do Recife, oferece uma combinação de telhado verde com uma área para ponto de encontro. O prédio, que abriga empresas de tecnologia, vai inaugurar o novo espaço na próxima quarta-feira. Distribuídos em 400 m², a vegetação apropriada à maresia e ao sol se junta ao mobiliário de madeira para criar um ambiente convidativo para a contemplação e o bate-papo. “Pensamos numa proposta ecologicamente sustentável e que possa servir de inspiração para outros empreendimentos da cidade. Já tínhamos a vista deslumbrante, queríamos criar uma área de convivência, dentro do espírito inovador do Softex”, diz Manoel Borba, que administra o prédio.
Quando estiver pronto, em janeiro de 2016, o telhado verde do Empresarial Charles Darwin, na Ilha do Leite, será o maior em área do Recife e um dos maiores do Brasil. O grande gramado se estenderá pela cobertura do edifício-garagem e das marquises das lojas, o que resultará em cerca de 2,5 mil m² de área verde. O teto-jardim conseguirá armazenar cerca de 75 mil litros de água, além de sequestrar 11 toneladas de CO2 ao ano. “A preocupação de fazer um projeto inovador, que contribua com soluções sustentáveis para o local onde o prédio está inserido, foi a nossa maior motivação. O retorno que o telhado verde traz para o empreendimento e para a cidade vale o investimento. É uma tendência da arquitetura mundial e Recife não tem como ficar de fora”, diz Fabian Bezerra, gerente de projetos da Rio Ave, construtora responsável pelo empresarial. São iniciativas que, aos poucos, vão inserindo a cidade no mapa da sustentabilidade e conferindo melhoria aos espaços urbanos.