Festejo junino

Para aproveitar o São João no interior e na capital

Sua majestade, o forró, vai levantar poeira em tudo o que é arraial. A ordem é forrozar sem hora para parar

Ciara Carvalho
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Ciara Carvalho
Publicado em 23/06/2016 às 7:01
Sérgio Bernardo/JC Imagem
Sua majestade, o forró, vai levantar poeira em tudo o que é arraial. A ordem é forrozar sem hora para parar - FOTO: Sérgio Bernardo/JC Imagem
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Não é só a quadrilha. Tem a canjica, o milho cozido, o bolo de fubá. Não é só o forró pé de serra, o arrasta-pé no salão, o passo agarradinho. Tem casamento matuto, xote, xaxado, cantiga de roda. Festa de São João não é só uma festa. É um sentimento. Uma recordação de infância, um gosto bom de saudade até do que não se viveu. Quem conhece sente. O cheiro do milho transporta para a cozinha de casa, tempo de criança, pamonha cozinhando na panela, canjica mexida na colher de pau. “Uma festa brasileira por excelência”, resume a historiadora Carmem Lelis, pesquisadora da Secretaria de Cultura do Recife. Está fincada na alma do nordestino. Na capital ou no interior, pouco importa. O negócio é não deixar o chinelo parado. Pé de serra, eletrônico, estilizado, tradicional ou reinventado, tanto faz. Sua majestade, o forró, hoje vai levantar poeira em tudo o que é arraial.

Nascido da tradição religiosa, o São João é a festa do fogo. A fogueira que hoje vai queimar em tantos quintais, terreiros, ruas e avenidas remete à visita feita por Maria, mãe de Jesus, à prima Isabel. Para anunciar o nascimento do filho João, ela acendeu uma fogueira, dando início a um dos costumes mais tradicionais do Nordeste. No sincretismo religioso, é também a festa de Xangô, deus do fogo. Cheia de significados, a festa lembra fertilidade, fartura, é o tempo da colheita.

Diferentemente do Carnaval, que nasce urbano, o São João é festa agrária, vem do campo. “Por mais multidões que arraste nas centenas de arraiais espalhados pelas grandes capitais, tem sempre o sentimento de festa particular, feita pelos de casa, pelos vizinhos, pelas pessoas da comunidade. É uma festa que nasce na família e ganha a rua”, explica Albemar Araújo, que coordena o Concurso de Quadrilhas do Recife. A competição está em sua 32ª edição e reúne cerca de 50 quadrilhas de todos os cantos do Estado. O palco do concurso não poderia ser outro: o Sítio da Trindade, uma espécie de QG do forró na capital. “É como o Marco Zero no Carnaval”, compara Albemar.

Ele vai além da festa. Lembra que as quadrilhas são uma síntese do espírito junino e uma espécie de nascedouro para o surgimento de jovens talentos. “Ao participar do concurso, muitos jovens de comunidades carentes se descobrem coreógrafos, dançarinos, atores, músicos. Alguns fazem carreira. É uma grande janela para novas oportunidades”, observa. Albemar cita o espetáculo Sonho de Menino, Domingos Cantador, encenado pelo Quinteto Violado e a Quadrilha Junina Raio de Sol, como um dos pontos altos da festa, hoje no Sítio da Trindade. “É espetacular. De alto nível”, diz, convidando todos para assistir.

Para a historiadora Carmem Lelis, o São João está dentro de cada um. “Carrega uma memória afetiva muito forte e vai além da música, do ritmo. Está na culinária, na vestimenta. Todos os sentidos são aguçados com a festa”, afirma. De origem europeia, caiu no gosto popular do nordestino. Faz parte de sua identidade. E para matar a vontade o que não falta são opções. No Recife, além do Sítio da Trindade, tem arraial em vários bairros da capital. No interior, Caruaru, Arcoverde, Bezerros, Gravatá, a ordem é uma só. Forrozar sem hora para parar.

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