A Praça Ministro Salgado Filho, no caminho de acesso ao Aeroporto Internacional do Recife, localizado no Ibura, bairro da Zona Sul da cidade, é tombada como patrimônio cultural nacional e considerada jardim histórico da capital pernambucana. Na teoria, isso significa que o jardim projetado pelo renomado paisagista Roberto Burle Marx (1909-1994) em 1957 deveria ser preservado. Mas, na prática, a realidade é bem diferente.
Mapa de danos elaborado por alunos de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal de Pernambuco, com orientação de professores do Laboratório da Paisagem da UFPE, identificou formigueiros nas plantas; areia de praia no bosque de oitizeiros; calçadas de pedra portuguesa com buracos; plantas depredadas; lago cheio de lama e canteiros que impedem o desenvolvimento de algumas espécies.
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“A areia de praia não tem os nutrientes necessários para o crescimento das plantas e encandeia a vista”, destacam as estudantes Pollyana Martins e Thainá Souza Alves, que participaram do trabalho. “Moradores de rua usam o canteiro de aningas (herbácea aquática) como banheiro e a caixa da bomba-d’água é muito alta, quando deveria estar no nível do chão”, destaca o aluno Victor Vinícius Wanderley Rocha.
A ideia inicial do grupo, de acordo com o biólogo Joelmir Silva, vinculado ao Laboratório da Paisagem, era criar um projeto paisagístico que incorporasse a restauração de um jardim histórico, como exercício acadêmico, no primeiro semestre letivo deste ano. “Escolhemos a Praça Ministro Salgado Filho porque, em 2013, ela passou por obra de restauração com o resgate da concepção do jardim criado por Burle Marx na década de 1950”, explica o professor.
Seis nos atrás, com apoio do Laboratório da Paisagem da UFPE, a Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb) fez a impermeabilização do lago artificial de 1.600 metros quadrados, restaurou 32 metros de bancos de concreto, plantou 6.500 mudas de espécies diversas e colocou quatro mil metros quadrados de grama em toda a praça.
A intervenção custou R$ 955.882,00, segundo nota enviada pela assessoria de imprensa da autarquia para explicar os problemas de manutenção na área de lazer. No mesmo texto, a Emlurb informa que o serviço contemplou a “recuperação dos postes antigos de iluminação e a inclusão de três novos postes de dez metros, cada um com três luminárias; de projetores voltados para o lago e de cinco postes de seis metros com duas lâmpadas metálicas.” Também providenciou a recuperação de dois mil metros quadrados de passeio em pedra portuguesa.
“Fomos surpreendidos com o que encontramos, é um descaso”, acrescenta a professora Raquel Ferreira. “Troncos de pau-rei, espécie do projeto original de 1957, estão sendo furados com pregos que servem como suporte para segurar sacolas de lixo de ambulantes que trabalham no local”, avisa Joelmir Silva. “Esses furos deixam as plantas vulneráveis para doenças, é preciso ordenar e fiscalizar o comércio informal”, diz ele.
No jardim há pau-rei, pau-brasil, resedá, abricó-de-macaco, macaibeira, oitizeiro, papiro, aninga, ninfeia e baronesa. O papiro e outras espécies são indevidamente cortadas por aparadores de grama, alertam os estudantes. “O mau uso do equipamento prejudica o trabalho executado pela autarquia”, diz a nota da Emlurb.