Já se passaram dois anos desde que a atriz Angelina Jolie revelou ter enfrentado cirurgia para retirada das mamas depois de um teste detectar em seu DNA uma mutação no gene BRCA1, que está associada a risco elevado de câncer de mama – e também de ovário. Polêmicas à parte, a atitude da atriz fez o meio médico e a população feminina ficarem atentos a um grupo de mulheres que tem chances altas de desenvolver a doença. São pacientes que, por terem história do tumor na família (especialmente entre parentes de primeiro grau acometidas com câncer de mama antes dos 50 anos), precisam passar por um rastreamento do câncer de mama de forma mais criteriosa.
“Em casos como esse, a recomendação é a mulher iniciar os exames regulares dez anos antes de a parente ter desenvolvido a doença. Se uma tia teve o tumor aos 32 anos, por exemplo, a paciente deve começar a fazer os exames com regularidade aos 22 anos”, explica a oncologista Jurema Telles, coordenadora do serviço de oncologia de adulto do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip). Nesse rastreamento, incluem-se especialmente ressonância magnética e ultrassonografia das mamas. A mamografia só é eficaz para diagnóstico a partir dos 40 anos.
Para essas mulheres, os testes genéticos também podem ter valor, como para aquelas que não têm antecedentes familiares da doença, mas que foram diagnosticadas com o câncer de mama antes dos 45 anos ou que tiveram câncer de ovário em qualquer idade. Mulheres que foram detectadas com o câncer de mama triplo negativo antes dos 60 anos também podem se submeter ao teste genético. “Além disso, se a mulher tiver dois parentes de primeiro ou segundo graus com câncer de mama ou de ovário tem indicação para esse tipo de investigação sem precisar ter passado pela doença”, explica o médico João Bosco Oliveira, diretor-executivo do laboratório Genomika, no bairro da Ilha do Leite, área central do Recife.
Também pesquisador do Imip, João Bosco reforça que a informação que vem no resultado do teste genético tem várias utilidades, mas a mulher precisa ser orientada por um médico porque o conteúdo do laudo é complexo. “A paciente não pode interpretar o resultado sozinha. Se o teste for positivo para mutação nos genes BRCA1 e BRCA2, a mulher será indicada a passar por um rastreamento bem diferente do que é feito pela paciente que não tem mutações genéticas.”
O médico informa que, para quem tem defeito em qualquer um dos dois genes, a recomendação inclui o exame de sangue CA125 e a ultrassonografia dos ovários a cada seis meses. No primeiro semestre do ano, a mulher deve se submeter ainda a uma ressonância magnética das mamas e, no segundo semestre, à mamografia, a fim de detectar muito precocemente qualquer tumor que venha a aparecer. “Fora isso, ela pode optar pela mastectomia preventiva bilateral, que é a retirada das duas mamas de forma profilática. Mas não é obrigatória. Se a mulher quiser, pode só fazer o acompanhamento radiológico intensivo”, explica João Bosco.
Ele acrescenta que a maioria das mulheres que opta pela mastectomia preventiva assistiu a uma experiência traumática de câncer de mama na família. São pacientes que retiram as mamas porque não se sentem confortáveis de terem que viver com o risco aumentado de desenvolver a doença.
Os testes genéticos também podem ser feitos por uma mulher que já teve a doença e retirou uma das mamas. “É importante ela conhecer se tem a mutação em um dos genes. Se o resultado for positivo, a probabilidade de o câncer aparecer novamente na outra mama é de 40%. Nesse caso, a mulher pode optar por retirar o seio de forma preventiva ou fazer o acompanhamento com mamografia e ressonância magnética”, frisa João Bosco.
A mãe da pediatra Marília Teixeira de Brito, 35 anos, faleceu em maio, aos 57 anos, depois de enfrentar um câncer de mama agressivo. Numa fase avançada da doença, decidiu fazer o teste genético para verificar se as filhas teriam um risco aumentado para o tumor. Deu negativo para a mutação. “Mas já faço um rastreamento intensivo, incluindo ultrassonografia, mamografia e ressonância magnética. Além disso, estou me organizando para fazer a mastectomia, mesmo não tendo indicação médica para o procedimento. Claro que é uma decisão muito pessoal. Acho que a retirada das mamas me deixará mais tranquila”, conclui Marília.